segunda-feira, 25 de agosto de 2025

ARCANO XV- O DIABO: ENCARE SUA SOMBRA

 

Por: Randler Michel 


Chega uma hora na vida, que temos que encarar o  Diabo interior O Arcano XV do Tarô sob a luz da Psicologia Analítica de Carl Gustav Jung. Ilustração do Arcano XV- O Diabo, do Tarô Fusão Cósmica , criado com IA.

O Arcano XV — O Diabo — é um dos símbolos mais densos e inquietantes do Tarô. Ele não representa apenas o mal absoluto ou a condenação moral, mas sim forças psíquicas profundas que habitam a sombra do ser humano: os desejos reprimidos, os vícios, as compulsões, as pulsões sexuais e os excessos. Na perspectiva da psicologia analítica de Carl Gustav Jung, o Diabo é um arquétipo que nos confronta com tudo aquilo que foi excluído da consciência, mas que continua a operar silenciosamente no inconsciente.

A sombra, conceito central em Jung, é composta por conteúdos que o ego rejeita por não se alinharem à moral, à ética ou às expectativas sociais. No entanto, ela não é apenas um depósito de aspectos negativos. A sombra também abriga a energia criativa, a espontaneidade, a força instintiva e a potência de realização. O Diabo, como arquétipo, representa essa dualidade: é tanto o símbolo da degradação quanto da possibilidade de integração e transformação.

Vemos o Diabo nos outros, até o repelimos, mas não o vemos em nós mesmos através dos nossos comportamentos. Essa é a armadilha da projeção: ao negar nossa própria sombra, passamos a enxergá-la nos outros, condenando neles aquilo que não temos coragem de reconhecer em nós. O Diabo, nesse sentido, é o espelho da hipocrisia humana, da moral seletiva e da persona que construímos para sermos aceitos socialmente e que no arcano seguinte XVI- A Torre, a persona se desfaz, caem  as máscaras.

A imagem simbólica do Diabo como um esqueleto vestido com o hábito de um monge, fumando um cigarro e degustando uma taça de vinho tinto, sentado em uma poltrona diante de um casal sensual, revela com precisão essa ambiguidade. O esqueleto, símbolo da morte e da finitude, veste o traje da espiritualidade, sugerindo a contradição entre o sagrado e o profano. O cigarro e o vinho representam os vícios que anestesiam dores emocionais profundas, muitas vezes enraizadas na carência afetiva da infância. O casal aos seus pés — uma mulher de vestido vermelho, seios à mostra, e um homem sem camisa, com calça justa — encarna a prisão aos desejos sexuais, à teatralidade do erotismo e à busca por validação através do corpo.

O Diabo também é associado a arquétipos mitológicos como o deus Pan — divindade dos pastores, com pernas de bode, viciado em sexo e vinho — e Baphomet, figura esotérica que sintetiza o bem e o mal, o masculino e o feminino, o espiritual e o material. Anthony Louis, em O Livro Completo do Tarô, destaca que o Arcano XV representa o poder da ilusão, da sedução e da escravidão aos prazeres sensoriais. Observe que, numerologicamente, o número 15 se reduz a 6 (1+5), remetendo ao Arcano VI — Os Amantes — que simboliza o desejo, a dúvida entre dois caminhos, a traição e os triângulos amorosos. Assim, o Diabo é a sombra dos Amantes: quando o desejo se torna obsessão, quando o amor se converte em compulsão, quando a escolha é guiada pela luxúria e não pela luz da consciência.

No campo terapêutico, o Diabo nos convida a olhar para nossas máscaras — a persona que construímos para sermos aceitos — e a confrontar o que está por trás delas. Ele revela a perversão, o materialismo, a obsessão e a compulsão sexual como sintomas de uma alma desconectada de sua essência. Mas também aponta para a possibilidade de libertação: ao integrar a sombra, ao reconhecer os desejos reprimidos, ao acolher o que foi negado, o indivíduo pode transformar o Diabo interior em força criadora, ganhos e prosperidade material.

Encarar o Diabo é, portanto, um ato de coragem. É reconhecer que o mal não está fora, mas dentro de nós — e que só ao iluminá-lo com a consciência podemos transcender suas amarras.

Referências bibliográficas:

  • JUNG, Carl Gustav. O Eu e o Inconsciente. Petrópolis: Vozes, 2000.

  • LOUIS, Anthony. O Livro Completo do Tarô. São Paulo: Pensamento, 2019.

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