sexta-feira, 7 de novembro de 2025

O DESPERTAR DA ALMA: COMO O TRAUMA FORJOU O TERAPEUTA QUE SOU.

 Por: Rändler Michel 

 

Minha Jornada Sombria e o Despertar da Alma: Como o Trauma Forjou o Terapeuta (Uma Perspectiva Junguiana). A Escolha de Quíron, o centauro da mitologia grega, como ilustração é justamente por representar o curador ferido. Os terapeutas, aqueles que assim como eu, que por meio da própria dor, passa a compreender e apreciar a dor alheia e por tanto pode enxergar muito além do que aqueles que estão cegamente satisfeitos. Quíron, representa a parte ferida em algum problema que parece ser insolúvel e com tempo  recebe a cura.

Desde muito cedo, minha vida foi marcada por eventos que fragmentaram minha alma. Aos 6 anos, a perda de minha mãe instalou um vazio primordial, uma ferida, cuja a cicatriz nunca fechou. Aos 7, o assédio e tentativa de abuso sexual por um familiar, um tio infeliz. Após 45 anos, pós várias terapias sinto a confiança em falar sobre. Sei que este foi um tipo de trauma, que me fez perder a confiança básica no mundo e no meu próprio corpo.
Por muito tempo, carreguei essas feridas invisíveis, buscando respostas para a dor que não tinha nome nem lugar. Por que alguns de nós ficam presos no passado, enquanto outros conseguem se reerguer? Para mim, essa pergunta deixou de ser acadêmica e se tornou uma questão de sobrevivência.
Essa busca incessante por compreensão foi o que me levou aos estudos de Psicanálise e, fundamentalmente, à Psicologia Analítica de Carl Jung. Eu precisava entender a psique humana, pois a minha própria estava em pedaços. Foi nesse caminho que descobri que a cura não é apenas possível, mas segue um padrão de transformação.
Minha trajetória pessoal me mostrou que o trauma é tudo aquilo que sobrecarrega nossa capacidade de processamento emocional. Para me tornar o terapeuta que sou hoje, precisei atravessar quatro etapas que Jung me ajudou a integrar muito bem.
Etapa 1: O Reconhecimento Corajoso e a Aceitação da Sombra
A primeira etapa exigiu de mim uma coragem que eu mal sabia que existia. Era a coragem de olhar para o meu próprio "porão escuro" e aceitar o que a minha criança interior ainda estava lá: a dor da orfandade e a mancha da violação.
Eu entendi que, como dizia Jung, eu não poderia curar aquilo que não reconhecia conscientemente. Tentar negar ou minimizar a morte de minha mãe e o abuso era o que mantinha esses eventos vivos e atuantes no meu inconsciente.
O reconhecimento foi um ato de honestidade radical. Foi dizer: "Sim, esses horrores aconteceram comigo, e eles me afetaram profundamente." A aceitação não significou aprovar o que foi feito, mas sim parar de lutar contra o que já tinha ocorrido, permitindo que a tristeza da perda e a raiva da violação viessem à superfície. Foi o primeiro momento em que comecei a tratar o meu eu criança com a auto-compaixão que eu negava a mim mesmo.
Etapa 2: A Compreensão Profunda e a Ressignificação de minha própria História
Nesta fase, a teoria psicanalítica e os arquétipos de Jung se tornaram meus guias. Eu precisei conectar os traumas da minha infância aos padrões que se repetiam na minha vida adulta. O medo de perder quem eu amo, o medo de perder a mim mesmo.
Por exemplo, a perda precoce me levou a um profundo medo do abandono, enquanto o assédio gerou uma hipervigilância crônica e uma dificuldade imensa em estabelecer confiança básica. Meu corpo estava programado para a defesa. Eu precisava entender como essas estratégias de sobrevivência do meu eu de 7 anos estavam sabotando o meu eu adulto.
A ressignificação foi a chave. Eu não queria ser definido apenas pelo que fizeram comigo ou pelo que me tiraram. A dor da minha jornada não era o meu destino, mas sim o motor que me impulsionou a estudar a fundo a alma humana. Eu comecei a perceber que a profundidade da minha ferida me dava uma empatia incomum — uma capacidade de me sentar com a dor do outro no consultório, não com pena, mas com um conhecimento visceral. Foi assim que minha identidade se transformou: de "vítima" para "sobrevivente que encontrou um propósito".
Etapa 3: A Integração Emocional e a Liberação Somática
A verdadeira alquimia da cura aconteceu aqui, na integração. O estudo do trauma me ensinou que o corpo é o guardião da memória traumática. As emoções (luto, medo, raiva) ficaram "congeladas" no meu sistema nervoso.
Para mim, o processamento não foi apenas mental; foi profundamente somático. Minha análise pessoal se tornou o laboratório onde usei a Psicologia Analítica para integrar o material reprimido. O trabalho com símbolos e sonhos revelou as partes fragmentadas da minha psique, oferecendo uma linguagem para aquilo que as palavras não conseguiam alcançar.
A respiração, as técnicas de liberação corporal e a escrita terapêutica foram fundamentais para "descongelar" a raiva e o pânico. O objetivo era desenvolver um ego forte no sentido junguiano: a capacidade de me manter centrado e consciente, observando a intensidade emocional sem ser arrastado por ela. Eu finalmente pude sentir a dor daquele luto e daquela violação, não como se estivesse acontecendo de novo, mas como algo que aconteceu, e que agora podia ser liberado.
Etapa 4: A Reconstrução e o Crescimento Pós-Traumático
Hoje, a reconstrução é a minha realidade e o meu trabalho. Eu não sou apenas uma pessoa que sobreviveu aos traumas de infância; sou alguém que utilizou essa experiência para se tornar um profissional mais sábio e compassivo.
O crescimento pós-traumático permitiu que a profundidade do meu sofrimento se transformasse na profundidade da minha capacidade de ajuda. O estudo da psicanálise e o conhecimento da teoria de Jung não são apenas o meu ofício; são o mapa que tracei a partir da minha própria escuridão. Por incrível que pareça, pós psicanálise, pós várias análises pessoais que passei com terapeutas, para entregar o tripé da minha formação psicanalítica ( teoria, análise pessoal e supervisão) , hoje posso dizer que sou amigo da minha sombra.
Minha maior força emerge da minha vulnerabilidade integrada. No consultório, sou testemunho compassivo, capaz de sentar com a dor do outro porque eu conheço o caminho de volta.
A cura é um processo contínuo de individuação, um compromisso de vida inteira. E a minha maior satisfação é ver que a minha jornada – que começou com a perda e a violação – se tornou a base sólida para guiar outras almas na busca por sua própria totalidade e liberdade.

Referência:

Stein, Murray. Jung: o mapa da alma. São Paulo: Cultrix, 2006. 

 

quinta-feira, 6 de novembro de 2025

OS CÓDIGOS SECRETOS DE JESUS : A CHAVE HERMÉTICA PARA O REINO DOS CÉUS

Por: Randler Michel  

 


Nesta produção textual transdisciplinar, integro saberes milenares  da revelação de conhecimentos dos Essênios e dos povos do  Egito Antigo e do mestre Jesus publicados nos quatro Evangelhos. Trata-se de uma sabedoria mais profunda sob o véu dos ensinamentos repassados pela oralidade e ancestralidade. O que há em comum com as sete  leis universais atribuídas ao sábio egípcio Hermes Trismegisto e as leis que Jesus de Nazaré demonstrou implicitadamente em suas parábolas e milagres?
Esta não é uma análise comum. É um convite para desvendar uma verdade unificada que transcende rótulos religiosos e ilumina o caminho para a maestria espiritual ou a maestria cósmica tão almejada pelos frateres e sorrores rosacruzes.
Ao descortinar os ensinamentos implícitos de Jesus através da lente do Cabalion (o texto que codifica os princípios herméticos), descobrimos que o Mestre não estava apenas dando conselhos morais; Ele estava revelando a mecânica do cosmos e capacitando-nos a cocriar nossa realidade. O convido para entrar agora na Câmara secreta do seu coração, ativar a Chama Trina (despertar do divino amor, sabedoria e poder) para ver os ensinamentos de Jesus e os mistérios herméticos sob uma luz completamente nova, um raio de sabedoria que pode transformar sua compreensão da fé e do universo.
Princípio 1: O Mentalismo : O Todo é Mente; o Universo é Mental. 
Este é o alicerce de tudo: a realidade manifestada é uma criação da Mente Universal.
 * A Visão Hermética: Tudo o que vemos e experimentamos começou como um pensamento na Mente do Todo. Nossos próprios pensamentos são forças criativas.
 * O Código de Jesus e a Bíblia: Jesus revela a Mente Divina, e a Bíblia comprova o poder criativo do nosso foco mental:
   * "Como homem pensa em seu coração, assim ele é." (Provérbios 23:7) – A vida é moldada pela sua crença e consciência interior.
   * "Se tiverdes fé do tamanho de um grão de mostarda, direis a esta montanha: 'Move-te daqui para acolá', e ela se moverá..." (Mateus 17:20) – A fé, a substância da mente, é a força que interage com o tecido da realidade mental.
Jesus nos ensinou que, ao alinharmos nossa mente (nossa consciência individual) com a Mente de Deus (o Todo), nos tornamos co-criadores.
Princípio 2: A Correspondência:  Como é em Cima, é em Baixo; como é em Baixo, é em Cima.
Existe sempre uma analogia entre os vários planos de existência (Espiritual, Mental e Material). O Reino de Deus está dentro, e o que é interior se manifesta no exterior.
 * A Visão Hermética: O microcosmo (o indivíduo) é um reflexo exato do macrocosmo (o universo).
 * O Código de Jesus e a Bíblia: O Mestre nos deu o mapa para conectar os reinos:
   * "Seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu." (Mateus 6:10) – Uma súplica poderosa que invoca a manifestação da harmonia do plano celestial no plano físico.
   * "O reino de Deus está dentro de vós." (Lucas 17:21) – A verdade fundamental: o Divino não é externo, mas uma presença interna, cuja manifestação externa depende de nossa pureza de coração. "Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus." (Mateus 5:8).
Princípio 3: A Vibração: Nada está parado; tudo se move; tudo vibra. 
Tudo no universo, do átomo à galáxia, está em movimento constante, vibrando em diferentes frequências.
 * A Visão Hermética: As diferenças entre as coisas são apenas graus de frequência vibratória. Para mudar sua realidade, mude sua vibração.
 * O Código de Jesus e a Bíblia: Jesus demonstrou ser um Mestre da frequência:
   * Ao acalmar a tempestade com as palavras "Paz, aquietai-vos." (Marcos 4:39), Ele não apenas deu uma ordem física, mas alterou o padrão vibratório caótico dos elementos para um estado de harmonia.
   * Sua afirmação "A tua fé te salvou" (Lucas 17:19) após uma cura mostra que a Fé é uma vibração elevada que restaura a frequência original e saudável do corpo, eliminando a desarmonia (doença).
Princípio 4: A Polaridade:  Tudo é duplo; tudo tem polos; tudo tem o seu par de opostos... os extremos se tocam.
Todos os opostos (luz/escuridão, amor/ódio, quente/frio) são, na verdade, os extremos da mesma coisa, com diferentes graus. Os ensinamentos da Rosacruz, o homem é um ser dual.
 * A Visão Hermética: O amor e o ódio, por exemplo, não são separados, mas gradações da mesma energia. A maestria consiste em transmutar o polo indesejável para o polo desejável através da Vontade.
 * O Código de Jesus e a Bíblia: Jesus navegou e demonstrou a unidade dos opostos:
   * "Os últimos serão os primeiros, e os primeiros serão os últimos." (Mateus 20:16) – Um paradoxo que ilustra a natureza cíclica e unificada da realidade.
   * "Quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, mas quem perder a sua vida por amor de mim, achá-la-á." (Mateus 16:25) – O maior paradoxo da polaridade: a morte do ego (um extremo) leva à Vida Eterna (o outro extremo).
Princípio 5: O Ritmo Tudo flui, e reflui; tudo tem suas marés; todas as coisas sobem e descem; a oscilação do pêndulo manifesta-se em tudo. 
Existe um movimento de fluxo e refluxo, um balanço entre os polos. Não há estado de repouso absoluto.
 * A Visão Hermética: A chave é não se identificar com a oscilação do pêndulo (o sofrimento ou a euforia), mas permanecer no centro.
 * O Código de Jesus e a Bíblia: Jesus ensinou a confiar nos ciclos e no tempo divino:
   * "Há tempo para todo o propósito debaixo do céu..." (Eclesiastes 3:1) – Reconhecimento do ritmo divino que governa todas as experiências.
   * O próprio Ciclo da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus é a expressão máxima deste princípio: um movimento rítmico inevitável de descida (morte/sofrimento) seguido pela ascensão (redenção/alegria). A promessa de que "O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã" (Salmo 30:5) é a garantia do ritmo.
Princípio 6: Causa e Efeito: Toda Causa tem seu Efeito; todo Efeito tem sua Causa; tudo acontece de acordo com a Lei.
Não existe o acaso. O destino é apenas o nome dado a uma lei não reconhecida.
 * A Visão Hermética: Somos arquitetos de nossa realidade. Cada pensamento, palavra e ação é uma semente (Causa) que produzirá um fruto (Efeito) correspondente.
 * O Código de Jesus e a Bíblia: Este é o princípio do "Semear e Colher", central nos Evangelhos:
   * "Não vos enganeis: de Deus não se zomba; pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará." (Gálatas 6:7) – Uma afirmação direta da Lei de Causa e Efeito em operação.
   * A Parábola do Semeador (Mateus 13) é um manual hermético: a semente (a causa/palavra/ensinamento) produzirá efeitos diferentes dependendo do solo (o estado mental/coração do ouvinte).
Jesus nos liberta da mentalidade de vítima, empoderando-nos como Criadores Conscientes.
Princípio 7: O Gênero:  O Gênero está em tudo; tudo tem seus princípios Masculino e Feminino; o Gênero se manifesta em todos os planos.
Este princípio se refere às polaridades energéticas de criação: o princípio Ativo/Projetivo (Masculino) e o princípio Receptivo/Nutriz (Feminino).
 * A Visão Hermética: A criação surge da interação harmoniosa e equilibrada do Ativo e do Receptivo.
 * O Código de Jesus e a Bíblia: Jesus encarnou o equilíbrio perfeito dessas energias:
   * Ele manifestou o Princípio Masculino Ativo em sua Força (ao purificar o templo), Clareza (em seus sermões) e Direcionamento (em sua missão).
   * Ele manifestou o Princípio Feminino Receptivo em sua Compaixão (ao acolher os marginalizados), Nutrição (ao alimentar as multidões) e Receptividade (em sua profunda oração ao Pai).
   * A imagem final da criação é: "Eis que estou à porta, e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei..." (Apocalipse 3:20). A batida de Jesus é o impulso Ativo/Masculino (a semente da consciência); a abertura do coração é a Receptividade/Feminino (o solo fértil) que permite a nova criação.
O Caminho da Unificação
Jesus não veio para invalidar a sabedoria antiga, mas para incorporá-la e transcendê-la. Sua vida e ensinamentos são a demonstração perfeita de um ser humano que viveu em total alinhamento com as Leis Universais de Hermes Trismegisto, manifestando a plenitude do Reino de Deus na Terra.
A verdadeira fé, portanto, é a consciência aplicada dessas leis. Ao compreendê-las, deixamos de ser vítimas de forças invisíveis e nos tornamos mestres do nosso destino, caminhando em direção à mesma Maestria que Jesus demonstrou. 

Paz Profunda! 

Referências:

LEWIS, H. Spencer. A vida mística de Jesus. 15. ed. Curitiba: Grande Loja da Jurisdição de Língua Portuguesa, 2022. 

TRISMEGISTOS, Hermes. Ensinamentos Herméticos. 4. ed. Curitiba: Grande Loja da Jurisdição de Língua Portuguesa, 2007.

terça-feira, 4 de novembro de 2025

OS ARQUÉTIPOS DO TARÔ : A JORNADA DA ALMA

Por: Randler Michel





O Tarô é popularmente visto como uma ferramenta para prever o futuro ou desvendar segredos. No entanto, se o encararmos pela lente da Psicologia Analítica de Carl Gustav Jung, ele se transforma em algo muito mais profundo: um mapa vivo da psique humana e um espelho simbólico da alma. Para Jung, o Tarô não se trata de superstição, mas de uma linguagem arquetípica, um diálogo silencioso entre a consciência e o vasto território do inconsciente coletivo.
O Chamado das Imagens Arquetípicas:
Carl Jung dedicou sua vida ao estudo dos símbolos, percebendo que as imagens que nos tocam não são meras criações culturais ou invenções do ego. São, na verdade, emergências do inconsciente coletivo, as formas primordiais que ele chamou de Arquétipos.
É aqui que reside o poder do Tarô. Cada Arcano Maior — do Mago à Imperatriz, do Eremita ao Diabo — é uma personificação desses arquétipos universais. Quando olhamos para uma carta, não estamos apenas vendo uma imagem; estamos ativando uma memória ancestral que vibra dentro de nós.
O Tarô opera por ressonância simbólica. Ele não nos oferece uma explicação lógica do que está por vir, mas provoca uma reação, um "arrepio psíquico", que nos obriga a escutar o que a alma já sabe.
A Grande Viagem: O Processo de Individuação:
Os 22 Arcanos Maiores compõem uma narrativa viva, que Jung interpretaria como a jornada da Individuação: o processo de tornar-se a totalidade que se é, integrando o ego (a consciência) ao Self (o centro total da psique).
 * O Louco (Arcano Zero): O Salto de Confiança
   A jornada começa com o Louco, o andarilho que caminha à beira do abismo com um sorriso de entrega. Ele representa o impulso primordial de iniciar o caminho, o momento em que quebramos o roteiro e nos lançamos no desconhecido, confiando no movimento da alma, não nas garantias do mundo.
 * O Confronto com a Sombra:
   Em momentos-chave, a jornada nos apresenta cartas desconfortáveis, como O Diabo e A Torre. O Diabo não é o mal; é a Sombra, a parte de nós que foi banida da luz e que precisa ser reconhecida. A Torre é o colapso necessário das nossas falsas estruturas e personas. Segundo Jung, só se encontra o Self real quando a persona se quebra.
O Tarô, com sua coragem simbólica, nos força a encarar o que evitamos. A Morte não é o fim, mas a transição; o Enforcado não é castigo, mas a suspensão voluntária do controle para permitir a transmutação.
Sincronicidade: O Oráculo Interior
Jung também observou um fenômeno misterioso ao lidar com o Tarô: a Sincronicidade, a coincidência significativa entre um estado psíquico interno (um pensamento, um sentimento) e um evento externo (a carta tirada).
Ao embaralhar o Tarô, ativamos um campo simbólico onde o inconsciente e o mundo exterior se tocam. A carta "certa" que aparece no momento exato não é acaso, é o universo respondendo com sentido, e não com lógica. O Tarô revela a verdade simbólica do presente, mostrando a condição da alma de forma tão precisa que o futuro é apenas a consequência natural do que está sendo vivido agora.
O Tarô, portanto, não serve para prever nosso destino, mas para nos ajudar a despertá-lo. É um instrumento precioso para a escuta interior, um ritual que nos conduz, passo a passo, de volta à inteireza do nosso ser.

Referência Bibliográfica:


JUNG, Carl Gustav.(2008) O homem e seus símbolos. Tradução de Maria Lúcia Pinho. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira.

Nichols, S. (2000). Jung e o Tarô: uma jornada arquetípica (9ª ed.). São Paulo: Editora Cultrix. 

domingo, 2 de novembro de 2025

TODA CRISE É UM APRENDIZADO PARA A ALMA

Por: Randler Michel

Há períodos na vida em que tudo parece ruir ao mesmo tempo. As emoções se tornam intensas e desordenadas, os vínculos afetivos estremecem, e a trajetória profissional perde o sentido. São momentos em que o chão parece desaparecer sob os pés — e, ainda assim, é exatamente aí que algo novo começa a emergir. O arcano menor Seis de Espadas do tarô de  Waite, é o arquétipo da travessia da alma. O aprendizado chega com amor ou através da dor.  

Essas crises emocionais, sentimentais e até profissionais não são meros acidentes do destino. Elas sinalizam, com força e urgência, que chegou a hora de olhar para dentro. São convites disfarçados para a autodescoberta, para o mergulho corajoso nas camadas mais profundas do ser. Quando tudo o que era conhecido se desfaz, o que resta é a oportunidade de encontrar aquilo que é essencial.

A dor de uma perda, a frustração de um fracasso, o vazio de uma rotina sem propósito — todos esses estados-limite funcionam como catalisadores do autodesenvolvimento. Eles nos obrigam a questionar padrões, rever crenças, abandonar máscaras. E, nesse processo, o que parecia ser o fim revela-se como o início de uma jornada de individuação.

Carl Gustav Jung descreveu a individuação como o caminho pelo qual o indivíduo se torna aquilo que realmente é, integrando luz e sombra, razão e emoção, ego e alma. Não se trata de se tornar alguém melhor, mas alguém mais verdadeiro. E esse processo raramente começa em tempos de estabilidade. É no caos que a alma sussurra mais alto.

A autodescoberta não é um evento súbito, mas uma travessia. Envolve reconhecer as partes de si que foram negadas, acolher as dores que foram silenciadas, e permitir que o desconforto aponte direções. O autodesenvolvimento, por sua vez, exige disciplina emocional, coragem para mudar e compaixão para recomeçar — quantas vezes forem necessárias.

A crise, então, deixa de ser inimiga. Torna-se mestra. Ela nos ensina que não somos nossas conquistas, nem nossos fracassos. Que o valor não está na performance, mas na presença. Que o verdadeiro sucesso é viver em coerência com a própria essência, mesmo quando o mundo lá fora exige máscaras.

No fim, compreendemos que a vida não quer que sejamos perfeitos — quer que sejamos inteiros. E ser inteiro é aceitar-se em todas as fases: na queda e na ascensão, na dúvida e na clareza, na dor e na paz. Porque é nesse ciclo de morte e renascimento interior que o Self desperta, e a existência ganha um novo significado.

Referência: Carl Gustav Jung, O Homem e seus Símbolos, Editora Nova Fronteira, 2008. Autor: Randler Michel, Frater Rosacruz AMORC, psicanalista, terapeuta e astrólogo.


segunda-feira, 20 de outubro de 2025

É TEMPO DO DESPERTAR - EXPANSÃO DA CONSCIÊNCIA

A expansão da consciência é um processo de despertar interior que nos convida a transcender os limites da mente condicionada e acessar níveis mais elevados de percepção, sabedoria e conexão espiritual. É uma jornada que envolve a dissolução de padrões mentais e emocionais limitantes, a ativação de centros energéticos sutis e a abertura para dimensões mais profundas do ser. Nesse caminho, a evolução espiritual se manifesta como o florescimento das virtudes da alma — amor, compaixão, presença, unidade — e a reconexão com o propósito essencial da existência.

Dois elementos naturais profundamente simbólicos e vibracionalmente potentes acompanham essa jornada: a flor de lótus rosa e a pinha (fruto do pinheiro). Ambos são utilizados na terapia floral como essências que favorecem o despertar espiritual e o equilíbrio energético. O floral da flor de lótus e Floral da Pinha , estão presentes em variados sistemas de terapia floral.

🌸 Flor de Lótus Rosa: Elevação, Pureza e Iluminação

A flor de lótus é um dos símbolos espirituais mais universais e poderosos. Crescendo em águas lamacentas, mas florescendo limpa e radiante, ela representa a pureza espiritual e a capacidade de manter a integridade mesmo em ambientes adversos. É símbolo de renascimento e superação, refletindo a jornada da alma em direção à iluminação.

  • No budismo, está associada ao Nirvana e à pureza da mente e do coração.

  • No hinduísmo, é ligada às divindades Lakshmi e Brahma, simbolizando prosperidade, beleza e espiritualidade.

  • Na yoga, a posição de lótus (Padmásana) é usada para meditação, conectando corpo e espírito.

As cores da lótus têm significados específicos:

  • Branca: perfeição espiritual.

  • Azul: sabedoria e conhecimento.

  • Vermelha: amor e compaixão.

  • Rosa: associada ao Grande Buda, considerada a mais sagrada.

Na terapia floral, a essência da flor de lótus rosa atua como um catalisador de expansão da consciência. Ela:

  • Purifica emoções densas e padrões mentais limitantes.

  • Estimula o chakra coronário e a glândula pituitária, considerada o centro da percepção espiritual.

  • Facilita estados meditativos profundos e a conexão com o Eu superior.

  • Promove paz interior, clareza e abertura para o amor incondicional.

🌲 Pinha (Pinheiro): Enraizamento, Resiliência e Sabedoria

O pinheiro é símbolo de força, longevidade e transcendência. Sua resistência a climas extremos e sua presença imponente evocam estabilidade e contemplação.

  • Na tradição cristã, é símbolo da vida eterna e da fidelidade divina.

  • Em culturas indígenas, é usado em rituais de purificação e proteção espiritual.

  • Representa a conexão com a natureza, inspirando paz e introspecção.

A essência da pinha na terapia floral oferece:

  • Enraizamento e segurança emocional, atuando sobre o chakra básico.

  • Proteção energética e fortalecimento da aura.

  • Reconexão com a sabedoria ancestral e os valores profundos do ser.

  • Equilíbrio da glândula pituitária, criando um eixo entre o espiritual e o terreno.

Paz Profunda! Randler Michel 

sábado, 11 de outubro de 2025

PRESTE ATENÇÃO NOS SINAIS

 

Por: Randler Michel

 

Vivemos cercados por sinais. Eles não gritam, não se impõem — mas sussurram. Estão nas emoções que surgem sem explicação, nos pensamentos que insistem em voltar, nos sonhos que parecem mais reais que o dia seguinte. Estão nas cores que nos atraem, nos aromas que nos tocam, nos sons que nos envolvem. E, acima de tudo, estão nas vibrações que sentimos, mesmo sem saber nomear.

Na jornada espiritual e terapêutica, aprender a reconhecer esses sinais é essencial. Eles podem vir de dentro — dos corpos de energia, da alma, da consciência — ou de fora, através da atuação de mentores espirituais, guias, irmãos desencarnados ou mesmo espíritos em desequilíbrio.

Sinais de um mentor espiritual amigo

Mentores não se impõem. Eles inspiram. Sua presença é leve, amorosa, respeitosa. Quando estão próximos, você sente paz, clareza, força interior. Pensamentos elevados surgem, como se fossem sopros de sabedoria. Sonhos reveladores aparecem. Sincronicidades se multiplicam. E você começa a se lembrar de quem é, do que veio fazer, e do que precisa deixar para trás.

Sinais de influência obsessiva

Por outro lado, quando há influência de espíritos em sofrimento, os sinais mudam. Pensamentos negativos se repetem. Emoções densas se intensificam. Vícios ganham força. O corpo pesa. A mente se confunde. E a sensação de estar “fora de si” se torna constante. Esses sinais não devem ser temidos — devem ser compreendidos. Pois até o obsessor é um espírito em busca de cura, e sua presença pode ser o espelho que revela nossas próprias feridas.

Como discernir

A chave está no sentir a vibração. Mentores elevam. Obsessores drenam. Mentores respeitam. Obsessores pressionam. Mentores inspiram liberdade. Obsessores induzem dependência. Preste atenção no que você sente, pensa, sonha e atrai. O corpo fala. A alma responde. O espírito guia.

A energia das flores e o despertar espiritual

As flores não apenas embelezam o mundo com suas cores e perfume — elas vibram. Seus pigmentos (antocianinas, carotenoides, betalaínas, xantofilas) carregam frequências que atuam no corpo e na alma. Seus aromas ativam memórias e emoções. E estudos recentes mostram que até seus sons — em frequências ultrassônicas — revelam que elas sentem, reagem e se comunicam.

A terapia floral, especialmente a linha dos Florais de Saint Germain, oferece fórmulas específicas para quem busca proteção espiritual, elevação da consciência e equilíbrio emocional. Cada essência atua em níveis sutis, ajudando a limpar padrões negativos, fortalecer a luz interior e abrir caminhos para o autoconhecimento.

Recomendações com Florais de Saint Germain

  • Fórmulas de Proteção: criam um campo vibracional seguro contra energias densas e obsessores.

  • Espiritualidade e Meditação: facilitam a conexão com o Eu Superior e estados meditativos profundos.

  • Fórmula do Pânicum: indicada para medos intensos, pânico e ansiedade.

  • Fórmula Ânimo e Equilíbrio: revitaliza a energia vital e combate estados de apatia.

  • Fórmulas do Ho’oponopono: vibram os quatro pilares da reconciliação — Sinto muito, Me perdoe, Te amo, Sou grato — promovendo liberação emocional e cura relacional.

  • Fórmulas do Eu Sou – Sete Corpos Sutis:

    • 1º Corpo – Físico: limpeza e vitalização.

    • 2º Corpo – Etérico: equilíbrio dos chakras.

    • 3º Corpo – dos Desejos: purificação emocional.

    • 4º Corpo – Mental Concreto: organização dos pensamentos.

    • 5º Corpo – Mental Criativo: inspiração e criatividade.

    • 6º Corpo – Natureza Divina: alinhamento com o propósito espiritual.

    • 7º Corpo – Luz e Consciência: expansão da consciência e conexão com planos superiores.

Práticas complementares para proteção e elevação

  • Leituras espirituais: Salmo 91 (proteção), Salmo 23 (confiança), Oração do Pai Nosso (alinhamento), Prece de Caritas (compaixão universal).

  • Cromoterapia: usar roupas de tons claros, vivos e alegres; evitar cores escuras em momentos de fragilidade.

  • Cuidados energéticos: receber passe espiritual ou Reiki; fazer banhos de ervas como lavanda, alfazema, manjericão e alecrim para renovar a aura.

  • Rotina espiritual: manter práticas de oração, meditação e gratidão para criar um campo de luz ao seu redor.

  • Desenvolvimento da consciência espiritual: cultive sua espiritualidade através da prática religiosa que ressoe com seu coração e alma — seja ela qual for. O importante é que seja sincera, viva e conectada com o seu chamado interior.

REFLEXÃO:

Você não precisa ver ou ouvir um espírito para saber que está sendo ajudado. A ajuda espiritual se manifesta através da sua própria transformação, da força renovada, da paz que começa a surgir onde antes havia conflito. Prestar atenção nos sinais é um ato de coragem. É permitir que o invisível nos ensine, nos cure, nos guie.

Se você é terapeuta, buscador ou alguém em processo de despertar, lembre-se: os sinais estão por toda parte. E quando você aprende a reconhecê-los, a vida deixa de ser um enigma e se torna uma revelação.

quinta-feira, 9 de outubro de 2025

ARCANO 12-O Enforcado: A Suspensão que Transforma


Por: Randler Michel



A palavra arcano vem do latim arcanum, que significa “segredo” ou “mistério oculto”. No Tarô, os arcanos são representações simbólicas presentes no inconsciente coletivo, forças psíquicas e espirituais que atuam na jornada humana. O Arcano de número 12, conhecido como O Enforcado, é um dos mais profundos e desafiadores. Ele não fala de ação, mas de pausa. Não representa conquista, mas renúncia. E, acima de tudo, é um convite à transformação interior.

No Tarô de Rider Waite, esse arcano é ilustrado por um homem pendurado de cabeça para baixo por um pé, amarrado a uma árvore em forma de cruz em T — símbolo do sacrifício. O outro pé está livre, apoiado suavemente atrás do pé preso, formando o número 4, que remete à estabilidade e à estrutura. As mãos estão ocultas,  contidas entre a coluna lombar e o tronco da árvore. Seu rosto, no entanto, não expressa dor. Há uma serenidade inquietante, como se ele estivesse emocionalmente e mentalmente paralisado, vítima de seus próprios pensamentos e ações passadas.

Essa imagem é um retrato simbólico de uma crise psíquica. O corpo está estagnado após um período de estresse intenso, e a mente, embora livre, está presa em padrões negativos. O Enforcado representa aquele momento em que não há mais como fugir de si mesmo. É a suspensão forçada que obriga o indivíduo a olhar para dentro, a confrontar suas sombras e a iniciar o processo de individuação — conceito desenvolvido por Carl Gustav Jung, que descreve o caminho de integração entre o consciente e o inconsciente.

Do ponto de vista terapêutico, esse arcano é um chamado à renúncia. Renunciar aos comportamentos compulsivos, aos pensamentos automáticos, às atitudes que já não servem mais. É o momento de abrir mão do controle e permitir que a consciência se expanda. A posição invertida do Enforcado simboliza a necessidade de ver a vida sob um novo ângulo. Ele não está sendo punido — está sendo preparado para uma nova etapa.

A crise representada por esse arcano é também uma oportunidade de revisão de valores. A Lei do Retorno, presente nas tradições espirituais, nos lembra que tudo o que fazemos retorna para nós. O Enforcado nos convida a refletir sobre nossas ações passadas, reconhecer nossas imperfeições de caráter e iniciar um processo de cura. Sua sombra é o contato com a própria escuridão interna — orgulho, rigidez, negação — mas é nesse contato que reside a possibilidade de redenção.

No plano divinatório, O Enforcado anuncia um período de pausa, sacrifício voluntário, espera e introspecção. É o momento de não agir, mas de observar. No plano psicológico, ele representa a necessidade de quebrar padrões mentais, de abrir mão do ego e permitir que a alma respire. É o arquétipo da vítima que se liberta ao perceber que sua prisão é interna.

O Enforcado não é um fim — é um rito de passagem. Ele nos ensina que a verdadeira liberdade começa quando paramos de lutar contra o que é, e começamos a compreender o que somos.

Referências Bibliográficas:

  • Jung, Carl Gustav. O homem e seus símbolos. Editora Pensamento, 2000.

  • Banzhaf, Hajo. As chaves do Tarô. Editora Pensamento, 2001.

domingo, 21 de setembro de 2025

Eclipse Solar em Virgem – 21 de Setembro de 2025: O Momento de Reestruturação Espiritual


Por: Randler Michel

 


No dia 21 de setembro de 2025, o céu nos presenteia com um Eclipse Solar Parcial no grau 29 de Virgem, um ponto crítico conhecido como grau anarético. Esse grau simboliza encerramentos, decisões urgentes e transições inevitáveis. O eclipse é intensificado por uma oposição exata a Saturno retrógrado em Peixes, também no grau 28, formando um eixo de tensão entre ordem e dissolução, estrutura e entrega, controle e fé.

Fase da Lua e Horário do Eclipse

Este eclipse ocorre durante a fase de Lua Nova, como é característico dos eclipses solares. A Lua Nova representa o início de um novo ciclo lunar, e quando combinada com um eclipse, essa energia de renovação é intensificada — porém, exige encerramentos prévios para que algo novo possa realmente florescer.

O eclipse terá início às 14h29 (horário de Brasília), atingirá seu pico máximo de energia às 16h41 e se encerrará às 18h53. Esse momento de ápice representa o ponto mais potente de alinhamento entre Sol, Lua e Terra, marcando uma abertura energética significativa para rituais de encerramento, purificação e reprogramação espiritual.

Sol e Lua em Virgem: o chamado à reorganização

Virgem é um signo de terra mutável, regente da saúde, do serviço, da rotina e do discernimento. Quando Sol e Lua se encontram nesse signo durante um eclipse, somos convocados a fazer uma limpeza profunda — física, mental, emocional e espiritual. O grau 28 representa o limiar entre maturidade e transição, enquanto o grau 29 amplifica esse chamado: não há mais tempo para adiar o que precisa ser encerrado. É um momento de redefinir prioridades com precisão e coragem.

Oposição a Saturno em Peixes: entre limites e transcendência

Saturno em Peixes nos confronta com os limites das nossas ilusões. A oposição entre Virgem e Peixes pede equilíbrio entre o prático e o espiritual. Saturno exige responsabilidade, enquanto Peixes convida à entrega. Esse aspecto nos desafia a estruturar nossa espiritualidade, dar forma aos sonhos e abandonar escapismos. É um momento de profunda maturação emocional e espiritual.

Impactos simbólicos e espirituais para os signos por elemento

Signos de Terra (Touro, Virgem, Capricórnio): São chamados a alinhar corpo e propósito. Há uma revisão de rotinas, saúde e trabalho. É uma oportunidade de plantar novas sementes com mais eficiência e clareza. Espiritualmente, é hora de confiar no processo e abrir espaço para o invisível.

Signos de Água (Câncer, Escorpião, Peixes): Vivenciam um despertar emocional profundo. Há conflito entre sensibilidade e estrutura. É necessário colocar limites em relações e práticas que drenam energia. Espiritualmente, é um chamado à cura e à conexão com o divino através da disciplina.

Signos de Fogo (Áries, Leão, Sagitário): Precisam redirecionar energia e motivação. O desafio é transformar impulso em ação estratégica. Há revisão de metas e propósitos com mais realismo. Espiritualmente, é tempo de canalizar paixão para causas maiores e sustentáveis.

Signos de Ar (Gêmeos, Libra, Aquário): Devem reestruturar ideias, comunicação e relações. O convite é à escuta interna e ao silêncio reflexivo. Há necessidade de simplificar e focar. Espiritualmente, é um portal para integrar mente e coração, razão e intuição.

Conclusão

Este eclipse representa um divisor de águas. Ele nos pede coragem para encerrar ciclos, humildade para reconhecer o que não funciona mais, e fé para construir uma nova realidade com mais propósito e alinhamento. É uma Lua Nova turbinada, mas só floresce onde há espaço limpo e terra fértil.

sábado, 13 de setembro de 2025

ASTROLOGIA E ASTRONOMIA : SOMOS FILHOS DO UNIVERSO E IRMÃOS DAS ESTRELAS.


Por: Randler Michel

                                         Marsílio Ficino (1433–1499)

 

“Você é filho do Universo, irmão das estrelas e árvores. Você merece estar aqui, e mesmo que você não possa perceber, a Terra e o Universo vão cumprindo o seu destino.”

O poema Desiderata, escrito por Max Ehrmann em 1927, é uma meditação poética sobre paz interior, dignidade humana e harmonia com o universo.  sintetiza a ideia de que cada ser humano tem um lugar legítimo e precioso no cosmos, independentemente das circunstâncias. O astrólogo, médico e filósofo Marsílio Ficino e a astrônoma e astrofísica Cecília Payane  ambos com sua ciência e distanciados por séculos, comunicaram ao mundo, que somos filhos do Universo e irmãos das estelas.

Marsílio Ficino (1433–1499) foi uma das figuras mais influentes do Renascimento italiano. Filósofo, sacerdote, médico e músico, ele dedicou sua vida a traduzir e reinterpretar o pensamento de Platão e dos neoplatônicos, integrando-o à teologia cristã e à astrologia. Seu legado é vasto, e sua visão do universo como um organismo vivo ressoa surpreendentemente com descobertas científicas modernas — especialmente com a revelação de que os seres humanos são compostos pelos mesmos elementos que formam as estrelas.

Em 1925, a astrônoma Cecilia Payne-Gaposchkin publicou sua tese Stellar Atmospheres, na qual demonstrou que as estrelas são compostas principalmente de hidrogênio e hélio. Usando a equação de ionização de Saha, ela provou que os elementos presentes nas estrelas são os mesmos que constituem os seres humanos. Essa descoberta, inicialmente desacreditada, foi posteriormente reconhecida como uma das mais importantes da astrofísica moderna. A ciência, portanto, confirma o que Ficino já intuía em sua filosofia: somos feitos da mesma substância que compõe o cosmos.

Ficino acreditava que a alma do mundo imprimia suas propriedades em todas as formas da criação. Para ele, as estrelas não apenas influenciavam a vida terrena — elas compartilhavam da mesma essência que permeia tudo o que existe. Essa ideia está presente em sua obra De vita libri tres (1489), especialmente no terceiro livro, De vita coelitus comparanda, onde ele propõe uma medicina astrológica chamada iatromathematica. Nessa abordagem, os planetas são vistos como fontes de energia espiritual que podem ser canalizadas para promover saúde e equilíbrio.

A astrologia de Ficino não era voltada à adivinhação, mas à harmonização. Ele acreditava que os astros “inclinavam, mas não obrigavam”, e que o livre-arbítrio permitia ao ser humano agir com sabedoria diante das influências cósmicas. Para alcançar essa sintonia, recomendava o uso de talismãs, hinos órficos, cores, aromas e dietas específicas, cada uma associada às vibrações de determinados planetas.

Em sua Theologia Platonica (1486), Ficino descreve o universo como um organismo vivo e vibrante, no qual as estrelas emanam forças que animam a matéria. Essa visão se aproxima da cosmologia moderna, que vê o universo como uma rede de energia em constante transformação. Para Ficino, essa energia tinha propósito, alma e beleza — e o ser humano era seu reflexo. Ele afirmava: “Se Galeno é o médico do corpo, Platão é o médico da alma”, sintetizando sua missão de curar o espírito por meio da filosofia, da música, da astrologia e da contemplação do divino.

Sob o patrocínio de Lorenzo de Medici, Ficino fundou a Academia Platônica de Florença, inspirada na escola de Platão. Tradutor de obras clássicas e introdutor do Corpus Hermeticum ao Ocidente, ele moldou o pensamento renascentista e influenciou artistas como Botticelli e Michelangelo. Sua filosofia integrava o platonismo ao cristianismo, valorizando a dignidade, a beleza e o potencial espiritual do ser humano.

Para compreender a profundidade da astrologia na história humana, é essencial recorrer à obra A Astrologia no Mundo: Uma Visão Histórica para Entender Melhor a Personalidade Humana, de Peter Marshall. O autor traça um panorama fascinante das tradições astrológicas em diversas culturas, revelando como a astrologia foi usada para compreender o comportamento humano, os ciclos da natureza e os mistérios da existência. Ele mostra que, apesar das críticas e da marginalização científica, a astrologia permanece viva — nos lares, nos bastidores do poder, e nas buscas pessoais por sentido.

Hoje, quando olhamos para as estrelas e reconhecemos nelas nossa origem, podemos também ouvir o eco de Ficino: somos parte do cosmos, feitos da mesma substância das estrelas, e conectados por uma teia invisível de energia, alma e significado:a nossa carta natal,  Mapa Natal ou popular Mapa Astral.

Referências bibliográficas:

  • PAYNE-GAPOSCHKIN, Cecilia. Stellar Atmospheres. Harvard University, 1925.

  • FICINO, Marsilio. De vita libri tres. Florença, 1489.

  • MARSHALL, Peter. A Astrologia no Mundo: Uma Visão Histórica para Entender Melhor a Personalidade Humana. Rio de Janeiro: Editora Nova Era, 2006.

quarta-feira, 10 de setembro de 2025

Trânsitos Planetários: Os Ciclos Cósmicos que Moldam Nossa Jornada Pessoal

 

🔭 Por: Randler Michel

Na astrologia, os trânsitos planetários funcionam como grandes marcadores de tempo da alma. Eles não determinam o que vai acontecer, mas revelam os temas que estarão em destaque em nossa vida — como convites cósmicos para crescer, mudar e evoluir.

Hoje, vamos explorar como os trânsitos dos planetas lentos (Saturno, Urano, Netuno e Plutão) atuam como verdadeiros ritos de passagem, sinalizando momentos de crise, amadurecimento e renascimento. Também explicaremos o que é o Mapa Natal e o Mapa de Trânsitos, para que você possa entender como esses movimentos celestes se conectam com sua própria trajetória.

🧭 O Que é o Mapa Natal?

O Mapa Natal é uma fotografia do céu no exato momento do seu nascimento. Ele mostra onde estavam os planetas, em quais signos e casas, revelando seus potenciais, desafios e tendências. É como um código cósmico que descreve quem você é em essência.

🔄 O Que é o Mapa de Trânsitos?

O Mapa de Trânsitos compara o céu atual com o seu Mapa Natal. Ele mostra como os planetas em movimento estão ativando pontos específicos do seu mapa, trazendo à tona temas que precisam ser vividos, revisitados ou transformados. É uma ferramenta poderosa para entender os ciclos da vida e se preparar para eles com consciência.

🪐 Saturno: O Senhor do Tempo e da Estrutura

Saturno é o planeta da responsabilidade, dos limites e da maturidade. Seus trânsitos marcam os principais momentos de avaliação e reconstrução da vida adulta.

Principais trânsitos de Saturno:

  • 🔹 27–30 anos – Primeiro Retorno de Saturno Início da vida adulta. Confronto com escolhas e estruturas. Tempo de amadurecimento.

  • 🔹 ~36 anos – Quadratura Crescente Teste das estruturas criadas. Ajustes e superação de obstáculos.

  • 🔹 ~43–44 anos – Oposição de Saturno Crise da meia-idade. Reavaliação profunda da trajetória.

  • 🔹 ~51 anos – Quadratura Minguante Reflexão sobre legado e papel social.

  • 🔹 57–60 anos – Segundo Retorno de Saturno Transição para a sabedoria. Aceitação e liberdade madura.

⚡ Urano: A Revolução do Ser

Urano é o planeta da inovação, da liberdade e das mudanças súbitas. Seus trânsitos nos despertam para a autenticidade e nos libertam de padrões estagnados.

Principais trânsitos de Urano:

  • 🔹 ~21 anos – Primeira Quadratura Rebeldia, busca por identidade e independência.

  • 🔹 ~40–42 anos – Oposição de Urano Desejo de liberdade. Mudanças radicais. Revolução pessoal.

  • 🔹 ~63 anos – Segunda Quadratura Reinvenção na maturidade. Vitalidade e propósito renovado.

  • 🔹 ~84 anos – Retorno de Urano Culminação da individuação. Reflexão sobre a vida vivida.

🌊 Netuno: A Busca por Significado

Netuno dissolve ilusões e nos conecta ao espiritual. Seus trânsitos trazem confusão, inspiração ou desilusão — tudo para nos alinhar com o que é verdadeiro.

Trânsito marcante:

  • 🔹 ~40–42 anos – Quadratura de Netuno Crise de fé e propósito. Desilusão e despertar espiritual.

🔥 Plutão: Morte e Renascimento

Plutão representa poder, transformação e renascimento. Seus trânsitos são intensos e profundos, revelando sombras e promovendo cura.

Trânsito marcante:

  • 🔹 ~37–43 anos – Quadratura de Plutão Crises intensas. Confronto com medos e padrões tóxicos. Renascimento pessoal.

🌟 Por Que Conhecer Seus Trânsitos?

Entender os trânsitos planetários é como ter um calendário da alma. Eles ajudam você a:

  • Identificar os momentos ideais para mudanças

  • Compreender crises como oportunidades de crescimento

  • Planejar decisões importantes com mais consciência

  • Honrar os ritmos naturais da vida

🧙‍♂️ Conclusão

A astrologia é uma linguagem simbólica que nos ajuda a navegar os ciclos da existência com mais sabedoria. Os trânsitos planetários são convites cósmicos para evoluir, e o Mapa Natal é o ponto de partida dessa jornada. Ao unir esses dois instrumentos, você pode transformar desafios em oportunidades e viver com mais propósito e autenticidade.

Se quiser, posso calcular seus trânsitos atuais com base no seu Mapa Natal. Basta me enviar sua data, hora e local de nascimento. Vamos decifrar juntos os sinais do céu!

📚 Referência Bibliográfica

SASPORTAS, Howard. Os Deuses da Mudança: uma nova abordagem da astrologia. São Paulo: Siciliano, 1991.

A Relação entre os Setênios da Antroposofia e os Chakras da Tradição Iogue: Um Mapa Evolutivo do Desenvolvimento Humano


Por: Randler Michel

                                                             Fonte de imagem: https://oterceiroato.com/

Resumo Este artigo propõe uma análise integrativa e interdisciplinar entre os ciclos de sete anos conhecidos como setênios, conforme a Antroposofia de Rudolf Steiner, e os centros energéticos denominados chakras, oriundos da tradição iogue. A correlação entre essas duas abordagens oferece uma perspectiva simbólica e prática sobre o desenvolvimento humano, desde a infância até a maturidade espiritual, revelando uma jornada de amadurecimento físico, emocional, mental e espiritual.

Palavras-chave: Setênios; Chakras; Antroposofia; Desenvolvimento humano; Espiritualidade.

1. Introdução

O ser humano passa por diversas fases ao longo da vida, cada uma marcada por desafios e aprendizados específicos. A Antroposofia, ciência espiritual desenvolvida por Rudolf Steiner, propõe que a biografia humana se organiza em ciclos de sete anos, denominados setênios. Paralelamente, a tradição iogue descreve os chakras como centros energéticos que governam dimensões específicas da consciência e da saúde integral. Este artigo busca correlacionar essas duas abordagens, oferecendo um mapa simbólico e funcional para o autoconhecimento e a evolução pessoal.

2. Os Setênios na Antroposofia

Segundo Steiner (1991), os setênios representam etapas do desenvolvimento humano que envolvem a formação do corpo físico, da alma e do espírito. Cada ciclo de sete anos é caracterizado por uma tarefa biográfica predominante, que se manifesta nas esferas da vontade, do sentimento e do pensamento.

2.1 Primeiro Setênio (0 a 7 anos) – Formação do Corpo Físico

Fase da encarnação e estruturação corporal. A criança aprende por imitação e desenvolve a vontade. O foco está na segurança, nos ritmos e na construção de vínculos com o ambiente. Frase-chave: “O mundo é bom.”

2.2 Segundo Setênio (7 a 14 anos) – Desenvolvimento da Vida Emocional

Fase da alma sensível. A criança desenvolve sentimentos, imaginação e memória. A autoridade externa é valorizada e o mundo é explorado pelo sentir. Frase-chave: “O mundo é belo.”

2.3 Terceiro Setênio (14 a 21 anos) – Construção da Identidade e do Pensamento

Fase da alma racional. O jovem busca sua identidade, questiona o mundo e forma ideais próprios. É um período de afirmação e julgamento crítico. Frase-chave: “O mundo é verdadeiro.”

2.4 Quarto Setênio (21 a 28 anos) – Maturidade Emocional e Relações Profundas

Fase de integração social e afetiva. O adulto jovem busca experiências significativas, constrói vínculos e começa a equilibrar o interno com o externo. Frase-chave: “Eu sou parte do mundo.”

2.5 Quinto Setênio (28 a 35 anos) – Afirmação no Mundo e Expressão da Verdade

Fase de estruturação consciente. O indivíduo consolida sua identidade e busca viver de acordo com sua verdade interior. Frase-chave: “Eu sou quem eu sou.”

2.6 Sexto Setênio (35 a 42 anos) – Crise de Autenticidade e Visão Interior

Fase de revisão e introspecção. O indivíduo questiona as estruturas construídas e busca autenticidade e significado mais profundo. Frase-chave: “Quem sou eu de verdade?”

2.7 Sétimo Setênio (42 a 49 anos) – Espiritualidade Consciente e Transcendência

Fase de conexão com o propósito maior. O foco se volta do “ter” para o “ser”, com busca por inspiração e transcendência. Frase-chave: “Eu sou parte do Todo.”

3. Os Chakras na Tradição Iogue

Os chakras são centros sutis de energia distribuídos ao longo da coluna vertebral, conforme descrito por autores como Judith (2004). Cada chakra está associado a aspectos físicos, emocionais e espirituais, e seu despertar representa a integração das qualidades que ele simboliza.

4. Correlação entre Setênios e Chakras

A seguir, apresenta-se a relação entre os sete primeiros setênios e os respectivos chakras, com base em suas características simbólicas e funcionais.


4.1 Primeiro Setênio (0 a 7 anos) – Chakra Básico (Muladhara)

  • Desenvolvimento: Encarnação física, segurança e vínculo com o ambiente.

  • Chakra: Muladhara (Raiz)

  • Cor: Vermelho

  • Mantra: LAM

  • Órgãos: Suprarrenais, pernas, pés, intestino grosso.

4.2 Segundo Setênio (7 a 14 anos) – Chakra Sacral (Svadhisthana)

  • Desenvolvimento: Emoções, imaginação e vínculos afetivos.

  • Chakra: Svadhisthana

  • Cor: Laranja

  • Mantra: VAM

  • Órgãos: Gônadas, rins, quadris, bexiga.

4.3 Terceiro Setênio (14 a 21 anos) – Chakra do Plexo Solar (Manipura)

  • Desenvolvimento: Identidade, força de vontade e pensamento próprio.

  • Chakra: Manipura

  • Cor: Amarelo

  • Mantra: RAM

  • Órgãos: Pâncreas, fígado, estômago, sistema digestivo.

4.4 Quarto Setênio (21 a 28 anos) – Chakra Cardíaco (Anahata)

  • Desenvolvimento: Relações profundas, amor e empatia.

  • Chakra: Anahata

  • Cor: Verde e Rosa

  • Mantra: YAM

  • Órgãos: Timo, coração, pulmões, braços.

4.5 Quinto Setênio (28 a 35 anos) – Chakra Laríngeo (Vishuddha)

  • Desenvolvimento: Expressão pessoal, verdade e comunicação.

  • Chakra: Vishuddha

  • Cor: Azul Celeste

  • Mantra: HAM

  • Órgãos: Tireoide, garganta, boca, ouvidos.

4.6 Sexto Setênio (35 a 42 anos) – Chakra Frontal (Ajna)

  • Desenvolvimento: Intuição, visão interior e autenticidade.

  • Chakra: Ajna (Terceiro Olho)

  • Cor: Azul Índigo

  • Mantra: OM

  • Órgãos: Pituitária, olhos, cérebro inferior.

4.7 Sétimo Setênio (42 a 49 anos) – Chakra Coronário (Sahasrara)

  • Desenvolvimento: Espiritualidade consciente e transcendência.

  • Chakra: Sahasrara

  • Cor: Violeta ou Branco-Dourado

  • Mantra: Silêncio (ou OM)

  • Órgãos: Pineal, córtex cerebral, corpo energético.

5. Considerações Finais

A correlação entre os setênios e os chakras oferece uma abordagem integrativa para compreender o desenvolvimento humano em suas múltiplas dimensões. Ao reconhecer os desafios e potenciais de cada fase da vida, é possível promover uma jornada mais consciente, alinhada com os ritmos naturais da existência e com os princípios da evolução espiritual.

Referências Bibliográficas

STEINER, Rudolf. A Educação da Criança segundo a Ciência Espiritual. São Paulo: Antroposófica, 1991.

JUDITH, Anodea. Os Chakras: Roda da Vida. São Paulo: Pensamento, 2004.

SHARMA, Dr. Shalila; SHARMA, Bodo J. Chakras: Os Centros de Energia do Corpo Humano. São Paulo: Ground, 1992.

KÜHNE, Christoph. Biografia Humana: A Arte de Viver Conscientemente. São Paulo: Antroposófica, 2010.


segunda-feira, 25 de agosto de 2025

ARCANO XV- O DIABO: ENCARE SUA SOMBRA

 

Por: Randler Michel 


Chega uma hora na vida, que temos que encarar o  Diabo interior O Arcano XV do Tarô sob a luz da Psicologia Analítica de Carl Gustav Jung. Ilustração do Arcano XV- O Diabo, do Tarô Fusão Cósmica , criado com IA.

O Arcano XV — O Diabo — é um dos símbolos mais densos e inquietantes do Tarô. Ele não representa apenas o mal absoluto ou a condenação moral, mas sim forças psíquicas profundas que habitam a sombra do ser humano: os desejos reprimidos, os vícios, as compulsões, as pulsões sexuais e os excessos. Na perspectiva da psicologia analítica de Carl Gustav Jung, o Diabo é um arquétipo que nos confronta com tudo aquilo que foi excluído da consciência, mas que continua a operar silenciosamente no inconsciente.

A sombra, conceito central em Jung, é composta por conteúdos que o ego rejeita por não se alinharem à moral, à ética ou às expectativas sociais. No entanto, ela não é apenas um depósito de aspectos negativos. A sombra também abriga a energia criativa, a espontaneidade, a força instintiva e a potência de realização. O Diabo, como arquétipo, representa essa dualidade: é tanto o símbolo da degradação quanto da possibilidade de integração e transformação.

Vemos o Diabo nos outros, até o repelimos, mas não o vemos em nós mesmos através dos nossos comportamentos. Essa é a armadilha da projeção: ao negar nossa própria sombra, passamos a enxergá-la nos outros, condenando neles aquilo que não temos coragem de reconhecer em nós. O Diabo, nesse sentido, é o espelho da hipocrisia humana, da moral seletiva e da persona que construímos para sermos aceitos socialmente e que no arcano seguinte XVI- A Torre, a persona se desfaz, caem  as máscaras.

A imagem simbólica do Diabo como um esqueleto vestido com o hábito de um monge, fumando um cigarro e degustando uma taça de vinho tinto, sentado em uma poltrona diante de um casal sensual, revela com precisão essa ambiguidade. O esqueleto, símbolo da morte e da finitude, veste o traje da espiritualidade, sugerindo a contradição entre o sagrado e o profano. O cigarro e o vinho representam os vícios que anestesiam dores emocionais profundas, muitas vezes enraizadas na carência afetiva da infância. O casal aos seus pés — uma mulher de vestido vermelho, seios à mostra, e um homem sem camisa, com calça justa — encarna a prisão aos desejos sexuais, à teatralidade do erotismo e à busca por validação através do corpo.

O Diabo também é associado a arquétipos mitológicos como o deus Pan — divindade dos pastores, com pernas de bode, viciado em sexo e vinho — e Baphomet, figura esotérica que sintetiza o bem e o mal, o masculino e o feminino, o espiritual e o material. Anthony Louis, em O Livro Completo do Tarô, destaca que o Arcano XV representa o poder da ilusão, da sedução e da escravidão aos prazeres sensoriais. Observe que, numerologicamente, o número 15 se reduz a 6 (1+5), remetendo ao Arcano VI — Os Amantes — que simboliza o desejo, a dúvida entre dois caminhos, a traição e os triângulos amorosos. Assim, o Diabo é a sombra dos Amantes: quando o desejo se torna obsessão, quando o amor se converte em compulsão, quando a escolha é guiada pela luxúria e não pela luz da consciência.

No campo terapêutico, o Diabo nos convida a olhar para nossas máscaras — a persona que construímos para sermos aceitos — e a confrontar o que está por trás delas. Ele revela a perversão, o materialismo, a obsessão e a compulsão sexual como sintomas de uma alma desconectada de sua essência. Mas também aponta para a possibilidade de libertação: ao integrar a sombra, ao reconhecer os desejos reprimidos, ao acolher o que foi negado, o indivíduo pode transformar o Diabo interior em força criadora, ganhos e prosperidade material.

Encarar o Diabo é, portanto, um ato de coragem. É reconhecer que o mal não está fora, mas dentro de nós — e que só ao iluminá-lo com a consciência podemos transcender suas amarras.

Referências bibliográficas:

  • JUNG, Carl Gustav. O Eu e o Inconsciente. Petrópolis: Vozes, 2000.

  • LOUIS, Anthony. O Livro Completo do Tarô. São Paulo: Pensamento, 2019.