Por : Randler Michel
Paz Profunda a todos!
A frase, escrita de forma quase poética na vertical, bateu fundo. Imediatamente, a mente de um estudante da alma se ativa: o quê, de fato, essa frase significa sob a ótica da Psicanálise de Sigmund Freud?
Em nossa linguagem cotidiana, dizemos que alguém tem um "ego grande" quando essa pessoa demonstra arrogância, egocentrismo ou um orgulho excessivo. A frase na parede parece capturar essa frustração popular: a ideia de que a busca desmedida por autoafirmação ou a recusa em ceder levou a um colapso — seja ele em um relacionamento, um projeto de vida ou na própria saúde mental.
No entanto, a Psicanálise nos oferece uma leitura muito mais profunda e complexa sobre o que é o Ego e por que ele, às vezes, "estraga tudo".
O Ego na Visão de Freud: Mais que Vaidade
Para Freud, o Ego (o "Eu") é apenas uma das três instâncias que compõem o aparelho psíquico, lado a lado com o Id e o Superego. Esta é a Segunda Tópica ou Modelo Estrutural da mente, desenvolvida por Freud a partir de 1923. Longe de ser apenas a parte arrogante da nossa personalidade, o Ego é, na verdade, o nosso executivo-chefe e o grande mediador da vida psíquica.
1. O que é o Ego?
O Ego é a porção organizada e realista da nossa mente. Ele se desenvolve a partir do Id (nossos instintos e desejos primitivos) na primeira infância, justamente para nos ajudar a lidar com o mundo real.
* Princípio de Funcionamento: É regido pelo Princípio da Realidade. O Ego avalia o ambiente, pesa as consequências e planeja a melhor forma de satisfazer os desejos do Id de uma maneira segura e aceitável.
* A Metáfora: Freud comparou o Ego a um cavaleiro tentando domar o cavalo selvagem do Id (instintos) e, ao mesmo tempo, obedecer às ordens do Superego (moral).
2. Como o Ego é Formado?
O Ego surge da necessidade de nos diferenciarmos do ambiente. A criança aprende que não pode simplesmente desejar algo e tê-lo magicamente; ela precisa esperar, planejar e agir.
Esta tomada de consciência de que o "Eu" é separado do "Mundo" é o que força o desenvolvimento de habilidades como a percepção, a memória, o raciocínio lógico e, crucialmente, a capacidade de adiar a gratificação.
3. O Papel Central do Ego
O Ego é a instância executiva da personalidade, sendo o árbitro constante que tenta servir a três mestres exigentes:
* O Id (O Selvagem): As pulsões e desejos primitivos, irracionais e insistentes.
* O Superego (O Moralista): A consciência moral, as regras sociais internalizadas, os ideais de perfeição e a culpa.
* A Realidade Externa (O Mundo): As leis da natureza, as restrições físicas e as consequências sociais.
Se o Ego consegue manter essa balança, vivemos em equilíbrio e nos adaptamos bem.
Quando o Ego "Estraga Tudo"
Do ponto de vista psicanalítico, o Ego "estraga tudo" quando falha miseravelmente em sua função de mediador. Isso pode ocorrer de duas formas:
* 1. A Falha em Controlar o Id (O Ego Impulsivo): O Ego, fraco, cede demais aos impulsos do Id. Em vez de adiar a satisfação, ele age de forma impulsiva, egoísta ou agressiva, levando a consequências desastrosas na vida real.
* 2. O Uso Excessivo de Defesas (O Ego Rígido): Quando a ansiedade é insuportável, o Ego utiliza mecanismos de defesa (como negação ou projeção) de forma excessiva. Esse excesso distorce a percepção da realidade e, no fim, impede a adaptação e o crescimento, manifestando-se como o "orgulho" ou a "vaidade" que popularmente chamamos de ego ruim.
A pichação no centro de BH é, portanto, um lembrete poderoso de que a personalidade saudável não reside em eliminar o Ego, mas sim em fortalecê-lo para que ele possa realizar sua árdua missão: integrar nossos desejos mais profundos com nossas obrigações morais e as duras realidades do mundo.
📚 Referência Bibliográfica:
Esta produção textual se baseia no desenvolvimento da Segunda Tópica do aparelho psíquico de Sigmund Freud, apresentada no texto fundamental de 1923:
FREUD, Sigmund. O Eu e o Id. In: Obras Completas, Volume 16: O Eu e o Id, "Autobiografia" e Outros Textos (1923-1925). Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras.

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