Por: Randler Michel
Marsílio Ficino (1433–1499)
“Você é filho do Universo, irmão das estrelas e árvores. Você merece estar aqui, e mesmo que você não possa perceber, a Terra e o Universo vão cumprindo o seu destino.”
O poema Desiderata, escrito por Max Ehrmann em 1927, é uma meditação poética sobre paz interior, dignidade humana e harmonia com o universo. sintetiza a ideia de que cada ser humano tem um lugar legítimo e precioso no cosmos, independentemente das circunstâncias. O astrólogo, médico e filósofo Marsílio Ficino e a astrônoma e astrofísica Cecília Payane ambos com sua ciência e distanciados por séculos, comunicaram ao mundo, que somos filhos do Universo e irmãos das estelas.
Marsílio Ficino (1433–1499) foi uma das figuras mais influentes do Renascimento italiano. Filósofo, sacerdote, médico e músico, ele dedicou sua vida a traduzir e reinterpretar o pensamento de Platão e dos neoplatônicos, integrando-o à teologia cristã e à astrologia. Seu legado é vasto, e sua visão do universo como um organismo vivo ressoa surpreendentemente com descobertas científicas modernas — especialmente com a revelação de que os seres humanos são compostos pelos mesmos elementos que formam as estrelas.
Em 1925, a astrônoma Cecilia Payne-Gaposchkin publicou sua tese Stellar Atmospheres, na qual demonstrou que as estrelas são compostas principalmente de hidrogênio e hélio. Usando a equação de ionização de Saha, ela provou que os elementos presentes nas estrelas são os mesmos que constituem os seres humanos. Essa descoberta, inicialmente desacreditada, foi posteriormente reconhecida como uma das mais importantes da astrofísica moderna. A ciência, portanto, confirma o que Ficino já intuía em sua filosofia: somos feitos da mesma substância que compõe o cosmos.
Ficino acreditava que a alma do mundo imprimia suas propriedades em todas as formas da criação. Para ele, as estrelas não apenas influenciavam a vida terrena — elas compartilhavam da mesma essência que permeia tudo o que existe. Essa ideia está presente em sua obra De vita libri tres (1489), especialmente no terceiro livro, De vita coelitus comparanda, onde ele propõe uma medicina astrológica chamada iatromathematica. Nessa abordagem, os planetas são vistos como fontes de energia espiritual que podem ser canalizadas para promover saúde e equilíbrio.
A astrologia de Ficino não era voltada à adivinhação, mas à harmonização. Ele acreditava que os astros “inclinavam, mas não obrigavam”, e que o livre-arbítrio permitia ao ser humano agir com sabedoria diante das influências cósmicas. Para alcançar essa sintonia, recomendava o uso de talismãs, hinos órficos, cores, aromas e dietas específicas, cada uma associada às vibrações de determinados planetas.
Em sua Theologia Platonica (1486), Ficino descreve o universo como um organismo vivo e vibrante, no qual as estrelas emanam forças que animam a matéria. Essa visão se aproxima da cosmologia moderna, que vê o universo como uma rede de energia em constante transformação. Para Ficino, essa energia tinha propósito, alma e beleza — e o ser humano era seu reflexo. Ele afirmava: “Se Galeno é o médico do corpo, Platão é o médico da alma”, sintetizando sua missão de curar o espírito por meio da filosofia, da música, da astrologia e da contemplação do divino.
Sob o patrocínio de Lorenzo de Medici, Ficino fundou a Academia Platônica de Florença, inspirada na escola de Platão. Tradutor de obras clássicas e introdutor do Corpus Hermeticum ao Ocidente, ele moldou o pensamento renascentista e influenciou artistas como Botticelli e Michelangelo. Sua filosofia integrava o platonismo ao cristianismo, valorizando a dignidade, a beleza e o potencial espiritual do ser humano.
Para compreender a profundidade da astrologia na história humana, é essencial recorrer à obra A Astrologia no Mundo: Uma Visão Histórica para Entender Melhor a Personalidade Humana, de Peter Marshall. O autor traça um panorama fascinante das tradições astrológicas em diversas culturas, revelando como a astrologia foi usada para compreender o comportamento humano, os ciclos da natureza e os mistérios da existência. Ele mostra que, apesar das críticas e da marginalização científica, a astrologia permanece viva — nos lares, nos bastidores do poder, e nas buscas pessoais por sentido.
Hoje, quando olhamos para as estrelas e reconhecemos nelas nossa origem, podemos também ouvir o eco de Ficino: somos parte do cosmos, feitos da mesma substância das estrelas, e conectados por uma teia invisível de energia, alma e significado:a nossa carta natal, Mapa Natal ou popular Mapa Astral.
Referências bibliográficas:
PAYNE-GAPOSCHKIN, Cecilia. Stellar Atmospheres. Harvard University, 1925.
FICINO, Marsilio. De vita libri tres. Florença, 1489.
MARSHALL, Peter. A Astrologia no Mundo: Uma Visão Histórica para Entender Melhor a Personalidade Humana. Rio de Janeiro: Editora Nova Era, 2006.