sexta-feira, 28 de novembro de 2025

O Ego Estragou Tudo : Uma Reflexão Psicanalítica em Meio ao Caos Urbano

 Por : Randler Michel 

Paz Profunda a todos!


Estava eu, em um dia comum, caminhando pelas movimentadas ruas do centro de Belo Horizonte, MG, absorvido pela sinfonia de buzinas e pelo ritmo acelerado da vida urbana, quando meus olhos foram atraídos para algo inesperado. Em uma das fachadas de um edifício alto, no meio de outras intervenções artísticas e pichações, deparei-me com uma frase concisa, mas de um poder enorme: "O EGO ESTRAGOU TUDO".

A frase, escrita de forma quase poética na vertical, bateu fundo. Imediatamente, a mente de um estudante da alma se ativa: o quê, de fato, essa frase significa sob a ótica da Psicanálise de Sigmund Freud?

Em nossa linguagem cotidiana, dizemos que alguém tem um "ego grande" quando essa pessoa demonstra arrogância, egocentrismo ou um orgulho excessivo. A frase na parede parece capturar essa frustração popular: a ideia de que a busca desmedida por autoafirmação ou a recusa em ceder levou a um colapso — seja ele em um relacionamento, um projeto de vida ou na própria saúde mental.

No entanto, a Psicanálise nos oferece uma leitura muito mais profunda e complexa sobre o que é o Ego e por que ele, às vezes, "estraga tudo".

O Ego na Visão de Freud: Mais que Vaidade

Para Freud, o Ego (o "Eu") é apenas uma das três instâncias que compõem o aparelho psíquico, lado a lado com o Id e o Superego. Esta é a Segunda Tópica ou Modelo Estrutural da mente, desenvolvida por Freud a partir de 1923. Longe de ser apenas a parte arrogante da nossa personalidade, o Ego é, na verdade, o nosso executivo-chefe e o grande mediador da vida psíquica.

1. O que é o Ego?

O Ego é a porção organizada e realista da nossa mente. Ele se desenvolve a partir do Id (nossos instintos e desejos primitivos) na primeira infância, justamente para nos ajudar a lidar com o mundo real.

 * Princípio de Funcionamento: É regido pelo Princípio da Realidade. O Ego avalia o ambiente, pesa as consequências e planeja a melhor forma de satisfazer os desejos do Id de uma maneira segura e aceitável.

 * A Metáfora: Freud comparou o Ego a um cavaleiro tentando domar o cavalo selvagem do Id (instintos) e, ao mesmo tempo, obedecer às ordens do Superego (moral).

2. Como o Ego é Formado?

O Ego surge da necessidade de nos diferenciarmos do ambiente. A criança aprende que não pode simplesmente desejar algo e tê-lo magicamente; ela precisa esperar, planejar e agir.

Esta tomada de consciência de que o "Eu" é separado do "Mundo" é o que força o desenvolvimento de habilidades como a percepção, a memória, o raciocínio lógico e, crucialmente, a capacidade de adiar a gratificação.

3. O Papel Central do Ego

O Ego é a instância executiva da personalidade, sendo o árbitro constante que tenta servir a três mestres exigentes:

 * O Id (O Selvagem): As pulsões e desejos primitivos, irracionais e insistentes.

 * O Superego (O Moralista): A consciência moral, as regras sociais internalizadas, os ideais de perfeição e a culpa.

 * A Realidade Externa (O Mundo): As leis da natureza, as restrições físicas e as consequências sociais.

Se o Ego consegue manter essa balança, vivemos em equilíbrio e nos adaptamos bem. 

Quando o Ego "Estraga Tudo"

Do ponto de vista psicanalítico, o Ego "estraga tudo" quando falha miseravelmente em sua função de mediador. Isso pode ocorrer de duas formas:

 * 1. A Falha em Controlar o Id (O Ego Impulsivo): O Ego, fraco, cede demais aos impulsos do Id. Em vez de adiar a satisfação, ele age de forma impulsiva, egoísta ou agressiva, levando a consequências desastrosas na vida real.

 * 2. O Uso Excessivo de Defesas (O Ego Rígido): Quando a ansiedade é insuportável, o Ego utiliza mecanismos de defesa (como negação ou projeção) de forma excessiva. Esse excesso distorce a percepção da realidade e, no fim, impede a adaptação e o crescimento, manifestando-se como o "orgulho" ou a "vaidade" que popularmente chamamos de ego ruim.

A pichação no centro de BH é, portanto, um lembrete poderoso de que a personalidade saudável não reside em eliminar o Ego, mas sim em fortalecê-lo para que ele possa realizar sua árdua missão: integrar nossos desejos mais profundos com nossas obrigações morais e as duras realidades do mundo.

📚 Referência Bibliográfica:

Esta produção textual se baseia no desenvolvimento da Segunda Tópica do aparelho psíquico de Sigmund Freud, apresentada no texto fundamental de 1923:

FREUD, Sigmund. O Eu e o Id. In: Obras Completas, Volume 16: O Eu e o Id, "Autobiografia" e Outros Textos (1923-1925). Tradução de Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras.



terça-feira, 18 de novembro de 2025

ARCANO 9 - O EREMITA ( O DESPERATAR DA CONSCIÊNCIA)

 Por: Randler Michel

                                The Eremit - The Visionary Tarot


O arquétipo do Eremita, representado pelo arcano IX do Tarô, simboliza o buscador da luz interior e o despertar da consciência. Ele caminha solitário, não por fuga ou isolamento, mas porque compreende que a verdadeira sabedoria não se encontra nas vozes externas, e sim no silêncio profundo da alma. Sua lanterna ilumina não apenas o caminho diante de si, mas também os recantos ocultos da mente humana, revelando verdades que permanecem invisíveis para aqueles que se prendem às ilusões do mundo.

Vivemos um tempo de transição. As estruturas sociais, políticas e econômicas que pareciam sólidas mostram sinais de desgaste. O velho paradigma já não sustenta as necessidades espirituais e emocionais da humanidade. Surge, então, a necessidade de voltar-se para dentro, de buscar respostas na interioridade e não apenas nas promessas externas. O Eremita nos lembra que o despertar da consciência é inevitável e que cada indivíduo, ao acender sua própria chama, contribui para a iluminação coletiva.

O processo de despertar não ocorre de forma súbita, mas gradualmente. É como a aurora que rompe a noite, trazendo luz aos poucos até que o dia se revele por completo. Esse movimento exige coragem para abandonar crenças rígidas e abrir-se ao fluxo da verdade. O silêncio torna-se revolucionário, pois nele se encontra a possibilidade de reflexão e compreensão. Em um mundo marcado pelo excesso de informação e pela superficialidade, a pausa e a introspecção são atos transformadores.

A solidão, muitas vezes temida, é vista pelo Eremita como presença profunda. Estar só não significa vazio, mas sim plenitude. É nesse estado que o buscador encontra a verdade e reconhece que o verdadeiro mestre não é aquele que fala alto, mas aquele que escuta com atenção. O isolamento do Eremita não é fuga, mas busca consciente, um caminho de autoconhecimento que conduz à revelação.

O despertar da consciência, conforme revelado pelo Eremita, é um processo coletivo e individual ao mesmo tempo. Cada ser humano é portador de uma luz interior que, quando reconhecida, transforma não apenas sua própria vida, mas também o mundo ao redor. O caminho espiritual não consiste em acumular respostas prontas, mas em aprender a formular as perguntas certas, aquelas que conduzem à essência da verdade.

A mensagem final do Eremita é clara: não devemos buscar fora aquilo que já arde dentro de nós. A lanterna que ele carrega é apenas um reflexo da luz que cada pessoa possui em seu coração. O despertar não é um evento distante, mas uma realidade que já pulsa no interior de cada ser. O convite é para caminhar com coragem, olhar para dentro e reconhecer que a chave da transformação está na própria consciência.

Paz Profunda!  

 

quinta-feira, 13 de novembro de 2025

OITO DE OUROS: A ARTE DA RESILIÊNCIA.

   POR: RANDLER MICHEL

 


 

No universo simbólico do Tarô Mitológico, o arcano 8 de Ouros nos apresenta Dédalo, o mestre artesão da mitologia grega, concentrado em seu trabalho meticuloso. Essa imagem não fala apenas de habilidade manual — ela nos convida a refletir sobre resiliência, dedicação e crescimento através do esforço constante.

Dédalo não busca aplausos. Ele molda, repete, aperfeiçoa. Cada martelada é uma afirmação silenciosa de que o progresso verdadeiro não acontece por sorte, mas por persistência consciente. O 8 de Ouros nos lembra que a excelência é construída — não herdada.

 A mensagem simbólica para quem enfrenta desafios

  • Resiliência é prática. Não basta resistir: é preciso transformar o desafio em aprendizado.

  • O processo importa. Mesmo quando os resultados parecem distantes, cada passo é parte da construção.

  • Trabalhar com propósito é cura. O foco no que se pode fazer hoje é o antídoto contra a ansiedade do amanhã.

Esse arcano é um convite à disciplina com alma, à rotina com significado, e à coragem de continuar mesmo quando ninguém está olhando. É o arquétipo do fazedor silencioso, que constrói sua própria liberdade com paciência e integridade.

Referência bibliográfica


SHARMAN-BURKE, Juliet; GREENE, Liz. O Tarô Mitológico. São Paulo: Editora Pensamento, 2006.

sexta-feira, 7 de novembro de 2025

O DESPERTAR DA ALMA: COMO O TRAUMA FORJOU O TERAPEUTA QUE SOU.

 Por: Rändler Michel 

 

Minha Jornada Sombria e o Despertar da Alma: Como o Trauma Forjou o Terapeuta (Uma Perspectiva Junguiana). A Escolha de Quíron, o centauro da mitologia grega, como ilustração é justamente por representar o curador ferido. Os terapeutas, aqueles que assim como eu, que por meio da própria dor, passa a compreender e apreciar a dor alheia e por tanto pode enxergar muito além do que aqueles que estão cegamente satisfeitos. Quíron, representa a parte ferida em algum problema que parece ser insolúvel e com tempo  recebe a cura.

Desde muito cedo, minha vida foi marcada por eventos que fragmentaram minha alma. Aos 6 anos, a perda de minha mãe instalou um vazio primordial, uma ferida, cuja a cicatriz nunca fechou. Aos 7, o assédio e tentativa de abuso sexual por um familiar, um tio infeliz. Após 45 anos, pós várias terapias sinto a confiança em falar sobre. Sei que este foi um tipo de trauma, que me fez perder a confiança básica no mundo e no meu próprio corpo.
Por muito tempo, carreguei essas feridas invisíveis, buscando respostas para a dor que não tinha nome nem lugar. Por que alguns de nós ficam presos no passado, enquanto outros conseguem se reerguer? Para mim, essa pergunta deixou de ser acadêmica e se tornou uma questão de sobrevivência.
Essa busca incessante por compreensão foi o que me levou aos estudos de Psicanálise e, fundamentalmente, à Psicologia Analítica de Carl Jung. Eu precisava entender a psique humana, pois a minha própria estava em pedaços. Foi nesse caminho que descobri que a cura não é apenas possível, mas segue um padrão de transformação.
Minha trajetória pessoal me mostrou que o trauma é tudo aquilo que sobrecarrega nossa capacidade de processamento emocional. Para me tornar o terapeuta que sou hoje, precisei atravessar quatro etapas que Jung me ajudou a integrar muito bem.
Etapa 1: O Reconhecimento Corajoso e a Aceitação da Sombra
A primeira etapa exigiu de mim uma coragem que eu mal sabia que existia. Era a coragem de olhar para o meu próprio "porão escuro" e aceitar o que a minha criança interior ainda estava lá: a dor da orfandade e a mancha da violação.
Eu entendi que, como dizia Jung, eu não poderia curar aquilo que não reconhecia conscientemente. Tentar negar ou minimizar a morte de minha mãe e o abuso era o que mantinha esses eventos vivos e atuantes no meu inconsciente.
O reconhecimento foi um ato de honestidade radical. Foi dizer: "Sim, esses horrores aconteceram comigo, e eles me afetaram profundamente." A aceitação não significou aprovar o que foi feito, mas sim parar de lutar contra o que já tinha ocorrido, permitindo que a tristeza da perda e a raiva da violação viessem à superfície. Foi o primeiro momento em que comecei a tratar o meu eu criança com a auto-compaixão que eu negava a mim mesmo.
Etapa 2: A Compreensão Profunda e a Ressignificação de minha própria História
Nesta fase, a teoria psicanalítica e os arquétipos de Jung se tornaram meus guias. Eu precisei conectar os traumas da minha infância aos padrões que se repetiam na minha vida adulta. O medo de perder quem eu amo, o medo de perder a mim mesmo.
Por exemplo, a perda precoce me levou a um profundo medo do abandono, enquanto o assédio gerou uma hipervigilância crônica e uma dificuldade imensa em estabelecer confiança básica. Meu corpo estava programado para a defesa. Eu precisava entender como essas estratégias de sobrevivência do meu eu de 7 anos estavam sabotando o meu eu adulto.
A ressignificação foi a chave. Eu não queria ser definido apenas pelo que fizeram comigo ou pelo que me tiraram. A dor da minha jornada não era o meu destino, mas sim o motor que me impulsionou a estudar a fundo a alma humana. Eu comecei a perceber que a profundidade da minha ferida me dava uma empatia incomum — uma capacidade de me sentar com a dor do outro no consultório, não com pena, mas com um conhecimento visceral. Foi assim que minha identidade se transformou: de "vítima" para "sobrevivente que encontrou um propósito".
Etapa 3: A Integração Emocional e a Liberação Somática
A verdadeira alquimia da cura aconteceu aqui, na integração. O estudo do trauma me ensinou que o corpo é o guardião da memória traumática. As emoções (luto, medo, raiva) ficaram "congeladas" no meu sistema nervoso.
Para mim, o processamento não foi apenas mental; foi profundamente somático. Minha análise pessoal se tornou o laboratório onde usei a Psicologia Analítica para integrar o material reprimido. O trabalho com símbolos e sonhos revelou as partes fragmentadas da minha psique, oferecendo uma linguagem para aquilo que as palavras não conseguiam alcançar.
A respiração, as técnicas de liberação corporal e a escrita terapêutica foram fundamentais para "descongelar" a raiva e o pânico. O objetivo era desenvolver um ego forte no sentido junguiano: a capacidade de me manter centrado e consciente, observando a intensidade emocional sem ser arrastado por ela. Eu finalmente pude sentir a dor daquele luto e daquela violação, não como se estivesse acontecendo de novo, mas como algo que aconteceu, e que agora podia ser liberado.
Etapa 4: A Reconstrução e o Crescimento Pós-Traumático
Hoje, a reconstrução é a minha realidade e o meu trabalho. Eu não sou apenas uma pessoa que sobreviveu aos traumas de infância; sou alguém que utilizou essa experiência para se tornar um profissional mais sábio e compassivo.
O crescimento pós-traumático permitiu que a profundidade do meu sofrimento se transformasse na profundidade da minha capacidade de ajuda. O estudo da psicanálise e o conhecimento da teoria de Jung não são apenas o meu ofício; são o mapa que tracei a partir da minha própria escuridão. Por incrível que pareça, pós psicanálise, pós várias análises pessoais que passei com terapeutas, para entregar o tripé da minha formação psicanalítica ( teoria, análise pessoal e supervisão) , hoje posso dizer que sou amigo da minha sombra.
Minha maior força emerge da minha vulnerabilidade integrada. No consultório, sou testemunho compassivo, capaz de sentar com a dor do outro porque eu conheço o caminho de volta.
A cura é um processo contínuo de individuação, um compromisso de vida inteira. E a minha maior satisfação é ver que a minha jornada – que começou com a perda e a violação – se tornou a base sólida para guiar outras almas na busca por sua própria totalidade e liberdade.

Referência:

Stein, Murray. Jung: o mapa da alma. São Paulo: Cultrix, 2006. 

 

quinta-feira, 6 de novembro de 2025

OS CÓDIGOS SECRETOS DE JESUS : A CHAVE HERMÉTICA PARA O REINO DOS CÉUS

Por: Randler Michel  

 


Nesta produção textual transdisciplinar, integro saberes milenares  da revelação de conhecimentos dos Essênios e dos povos do  Egito Antigo e do mestre Jesus publicados nos quatro Evangelhos. Trata-se de uma sabedoria mais profunda sob o véu dos ensinamentos repassados pela oralidade e ancestralidade. O que há em comum com as sete  leis universais atribuídas ao sábio egípcio Hermes Trismegisto e as leis que Jesus de Nazaré demonstrou implicitadamente em suas parábolas e milagres?
Esta não é uma análise comum. É um convite para desvendar uma verdade unificada que transcende rótulos religiosos e ilumina o caminho para a maestria espiritual ou a maestria cósmica tão almejada pelos frateres e sorrores rosacruzes.
Ao descortinar os ensinamentos implícitos de Jesus através da lente do Cabalion (o texto que codifica os princípios herméticos), descobrimos que o Mestre não estava apenas dando conselhos morais; Ele estava revelando a mecânica do cosmos e capacitando-nos a cocriar nossa realidade. O convido para entrar agora na Câmara secreta do seu coração, ativar a Chama Trina (despertar do divino amor, sabedoria e poder) para ver os ensinamentos de Jesus e os mistérios herméticos sob uma luz completamente nova, um raio de sabedoria que pode transformar sua compreensão da fé e do universo.
Princípio 1: O Mentalismo : O Todo é Mente; o Universo é Mental. 
Este é o alicerce de tudo: a realidade manifestada é uma criação da Mente Universal.
 * A Visão Hermética: Tudo o que vemos e experimentamos começou como um pensamento na Mente do Todo. Nossos próprios pensamentos são forças criativas.
 * O Código de Jesus e a Bíblia: Jesus revela a Mente Divina, e a Bíblia comprova o poder criativo do nosso foco mental:
   * "Como homem pensa em seu coração, assim ele é." (Provérbios 23:7) – A vida é moldada pela sua crença e consciência interior.
   * "Se tiverdes fé do tamanho de um grão de mostarda, direis a esta montanha: 'Move-te daqui para acolá', e ela se moverá..." (Mateus 17:20) – A fé, a substância da mente, é a força que interage com o tecido da realidade mental.
Jesus nos ensinou que, ao alinharmos nossa mente (nossa consciência individual) com a Mente de Deus (o Todo), nos tornamos co-criadores.
Princípio 2: A Correspondência:  Como é em Cima, é em Baixo; como é em Baixo, é em Cima.
Existe sempre uma analogia entre os vários planos de existência (Espiritual, Mental e Material). O Reino de Deus está dentro, e o que é interior se manifesta no exterior.
 * A Visão Hermética: O microcosmo (o indivíduo) é um reflexo exato do macrocosmo (o universo).
 * O Código de Jesus e a Bíblia: O Mestre nos deu o mapa para conectar os reinos:
   * "Seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu." (Mateus 6:10) – Uma súplica poderosa que invoca a manifestação da harmonia do plano celestial no plano físico.
   * "O reino de Deus está dentro de vós." (Lucas 17:21) – A verdade fundamental: o Divino não é externo, mas uma presença interna, cuja manifestação externa depende de nossa pureza de coração. "Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus." (Mateus 5:8).
Princípio 3: A Vibração: Nada está parado; tudo se move; tudo vibra. 
Tudo no universo, do átomo à galáxia, está em movimento constante, vibrando em diferentes frequências.
 * A Visão Hermética: As diferenças entre as coisas são apenas graus de frequência vibratória. Para mudar sua realidade, mude sua vibração.
 * O Código de Jesus e a Bíblia: Jesus demonstrou ser um Mestre da frequência:
   * Ao acalmar a tempestade com as palavras "Paz, aquietai-vos." (Marcos 4:39), Ele não apenas deu uma ordem física, mas alterou o padrão vibratório caótico dos elementos para um estado de harmonia.
   * Sua afirmação "A tua fé te salvou" (Lucas 17:19) após uma cura mostra que a Fé é uma vibração elevada que restaura a frequência original e saudável do corpo, eliminando a desarmonia (doença).
Princípio 4: A Polaridade:  Tudo é duplo; tudo tem polos; tudo tem o seu par de opostos... os extremos se tocam.
Todos os opostos (luz/escuridão, amor/ódio, quente/frio) são, na verdade, os extremos da mesma coisa, com diferentes graus. Os ensinamentos da Rosacruz, o homem é um ser dual.
 * A Visão Hermética: O amor e o ódio, por exemplo, não são separados, mas gradações da mesma energia. A maestria consiste em transmutar o polo indesejável para o polo desejável através da Vontade.
 * O Código de Jesus e a Bíblia: Jesus navegou e demonstrou a unidade dos opostos:
   * "Os últimos serão os primeiros, e os primeiros serão os últimos." (Mateus 20:16) – Um paradoxo que ilustra a natureza cíclica e unificada da realidade.
   * "Quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, mas quem perder a sua vida por amor de mim, achá-la-á." (Mateus 16:25) – O maior paradoxo da polaridade: a morte do ego (um extremo) leva à Vida Eterna (o outro extremo).
Princípio 5: O Ritmo Tudo flui, e reflui; tudo tem suas marés; todas as coisas sobem e descem; a oscilação do pêndulo manifesta-se em tudo. 
Existe um movimento de fluxo e refluxo, um balanço entre os polos. Não há estado de repouso absoluto.
 * A Visão Hermética: A chave é não se identificar com a oscilação do pêndulo (o sofrimento ou a euforia), mas permanecer no centro.
 * O Código de Jesus e a Bíblia: Jesus ensinou a confiar nos ciclos e no tempo divino:
   * "Há tempo para todo o propósito debaixo do céu..." (Eclesiastes 3:1) – Reconhecimento do ritmo divino que governa todas as experiências.
   * O próprio Ciclo da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus é a expressão máxima deste princípio: um movimento rítmico inevitável de descida (morte/sofrimento) seguido pela ascensão (redenção/alegria). A promessa de que "O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã" (Salmo 30:5) é a garantia do ritmo.
Princípio 6: Causa e Efeito: Toda Causa tem seu Efeito; todo Efeito tem sua Causa; tudo acontece de acordo com a Lei.
Não existe o acaso. O destino é apenas o nome dado a uma lei não reconhecida.
 * A Visão Hermética: Somos arquitetos de nossa realidade. Cada pensamento, palavra e ação é uma semente (Causa) que produzirá um fruto (Efeito) correspondente.
 * O Código de Jesus e a Bíblia: Este é o princípio do "Semear e Colher", central nos Evangelhos:
   * "Não vos enganeis: de Deus não se zomba; pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará." (Gálatas 6:7) – Uma afirmação direta da Lei de Causa e Efeito em operação.
   * A Parábola do Semeador (Mateus 13) é um manual hermético: a semente (a causa/palavra/ensinamento) produzirá efeitos diferentes dependendo do solo (o estado mental/coração do ouvinte).
Jesus nos liberta da mentalidade de vítima, empoderando-nos como Criadores Conscientes.
Princípio 7: O Gênero:  O Gênero está em tudo; tudo tem seus princípios Masculino e Feminino; o Gênero se manifesta em todos os planos.
Este princípio se refere às polaridades energéticas de criação: o princípio Ativo/Projetivo (Masculino) e o princípio Receptivo/Nutriz (Feminino).
 * A Visão Hermética: A criação surge da interação harmoniosa e equilibrada do Ativo e do Receptivo.
 * O Código de Jesus e a Bíblia: Jesus encarnou o equilíbrio perfeito dessas energias:
   * Ele manifestou o Princípio Masculino Ativo em sua Força (ao purificar o templo), Clareza (em seus sermões) e Direcionamento (em sua missão).
   * Ele manifestou o Princípio Feminino Receptivo em sua Compaixão (ao acolher os marginalizados), Nutrição (ao alimentar as multidões) e Receptividade (em sua profunda oração ao Pai).
   * A imagem final da criação é: "Eis que estou à porta, e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei..." (Apocalipse 3:20). A batida de Jesus é o impulso Ativo/Masculino (a semente da consciência); a abertura do coração é a Receptividade/Feminino (o solo fértil) que permite a nova criação.
O Caminho da Unificação
Jesus não veio para invalidar a sabedoria antiga, mas para incorporá-la e transcendê-la. Sua vida e ensinamentos são a demonstração perfeita de um ser humano que viveu em total alinhamento com as Leis Universais de Hermes Trismegisto, manifestando a plenitude do Reino de Deus na Terra.
A verdadeira fé, portanto, é a consciência aplicada dessas leis. Ao compreendê-las, deixamos de ser vítimas de forças invisíveis e nos tornamos mestres do nosso destino, caminhando em direção à mesma Maestria que Jesus demonstrou. 

Paz Profunda! 

Referências:

LEWIS, H. Spencer. A vida mística de Jesus. 15. ed. Curitiba: Grande Loja da Jurisdição de Língua Portuguesa, 2022. 

TRISMEGISTOS, Hermes. Ensinamentos Herméticos. 4. ed. Curitiba: Grande Loja da Jurisdição de Língua Portuguesa, 2007.

terça-feira, 4 de novembro de 2025

OS ARQUÉTIPOS DO TARÔ : A JORNADA DA ALMA

Por: Randler Michel





O Tarô é popularmente visto como uma ferramenta para prever o futuro ou desvendar segredos. No entanto, se o encararmos pela lente da Psicologia Analítica de Carl Gustav Jung, ele se transforma em algo muito mais profundo: um mapa vivo da psique humana e um espelho simbólico da alma. Para Jung, o Tarô não se trata de superstição, mas de uma linguagem arquetípica, um diálogo silencioso entre a consciência e o vasto território do inconsciente coletivo.
O Chamado das Imagens Arquetípicas:
Carl Jung dedicou sua vida ao estudo dos símbolos, percebendo que as imagens que nos tocam não são meras criações culturais ou invenções do ego. São, na verdade, emergências do inconsciente coletivo, as formas primordiais que ele chamou de Arquétipos.
É aqui que reside o poder do Tarô. Cada Arcano Maior — do Mago à Imperatriz, do Eremita ao Diabo — é uma personificação desses arquétipos universais. Quando olhamos para uma carta, não estamos apenas vendo uma imagem; estamos ativando uma memória ancestral que vibra dentro de nós.
O Tarô opera por ressonância simbólica. Ele não nos oferece uma explicação lógica do que está por vir, mas provoca uma reação, um "arrepio psíquico", que nos obriga a escutar o que a alma já sabe.
A Grande Viagem: O Processo de Individuação:
Os 22 Arcanos Maiores compõem uma narrativa viva, que Jung interpretaria como a jornada da Individuação: o processo de tornar-se a totalidade que se é, integrando o ego (a consciência) ao Self (o centro total da psique).
 * O Louco (Arcano Zero): O Salto de Confiança
   A jornada começa com o Louco, o andarilho que caminha à beira do abismo com um sorriso de entrega. Ele representa o impulso primordial de iniciar o caminho, o momento em que quebramos o roteiro e nos lançamos no desconhecido, confiando no movimento da alma, não nas garantias do mundo.
 * O Confronto com a Sombra:
   Em momentos-chave, a jornada nos apresenta cartas desconfortáveis, como O Diabo e A Torre. O Diabo não é o mal; é a Sombra, a parte de nós que foi banida da luz e que precisa ser reconhecida. A Torre é o colapso necessário das nossas falsas estruturas e personas. Segundo Jung, só se encontra o Self real quando a persona se quebra.
O Tarô, com sua coragem simbólica, nos força a encarar o que evitamos. A Morte não é o fim, mas a transição; o Enforcado não é castigo, mas a suspensão voluntária do controle para permitir a transmutação.
Sincronicidade: O Oráculo Interior
Jung também observou um fenômeno misterioso ao lidar com o Tarô: a Sincronicidade, a coincidência significativa entre um estado psíquico interno (um pensamento, um sentimento) e um evento externo (a carta tirada).
Ao embaralhar o Tarô, ativamos um campo simbólico onde o inconsciente e o mundo exterior se tocam. A carta "certa" que aparece no momento exato não é acaso, é o universo respondendo com sentido, e não com lógica. O Tarô revela a verdade simbólica do presente, mostrando a condição da alma de forma tão precisa que o futuro é apenas a consequência natural do que está sendo vivido agora.
O Tarô, portanto, não serve para prever nosso destino, mas para nos ajudar a despertá-lo. É um instrumento precioso para a escuta interior, um ritual que nos conduz, passo a passo, de volta à inteireza do nosso ser.

Referência Bibliográfica:


JUNG, Carl Gustav.(2008) O homem e seus símbolos. Tradução de Maria Lúcia Pinho. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira.

Nichols, S. (2000). Jung e o Tarô: uma jornada arquetípica (9ª ed.). São Paulo: Editora Cultrix. 

domingo, 2 de novembro de 2025

TODA CRISE É UM APRENDIZADO PARA A ALMA

Por: Randler Michel

Há períodos na vida em que tudo parece ruir ao mesmo tempo. As emoções se tornam intensas e desordenadas, os vínculos afetivos estremecem, e a trajetória profissional perde o sentido. São momentos em que o chão parece desaparecer sob os pés — e, ainda assim, é exatamente aí que algo novo começa a emergir. O arcano menor Seis de Espadas do tarô de  Waite, é o arquétipo da travessia da alma. O aprendizado chega com amor ou através da dor.  

Essas crises emocionais, sentimentais e até profissionais não são meros acidentes do destino. Elas sinalizam, com força e urgência, que chegou a hora de olhar para dentro. São convites disfarçados para a autodescoberta, para o mergulho corajoso nas camadas mais profundas do ser. Quando tudo o que era conhecido se desfaz, o que resta é a oportunidade de encontrar aquilo que é essencial.

A dor de uma perda, a frustração de um fracasso, o vazio de uma rotina sem propósito — todos esses estados-limite funcionam como catalisadores do autodesenvolvimento. Eles nos obrigam a questionar padrões, rever crenças, abandonar máscaras. E, nesse processo, o que parecia ser o fim revela-se como o início de uma jornada de individuação.

Carl Gustav Jung descreveu a individuação como o caminho pelo qual o indivíduo se torna aquilo que realmente é, integrando luz e sombra, razão e emoção, ego e alma. Não se trata de se tornar alguém melhor, mas alguém mais verdadeiro. E esse processo raramente começa em tempos de estabilidade. É no caos que a alma sussurra mais alto.

A autodescoberta não é um evento súbito, mas uma travessia. Envolve reconhecer as partes de si que foram negadas, acolher as dores que foram silenciadas, e permitir que o desconforto aponte direções. O autodesenvolvimento, por sua vez, exige disciplina emocional, coragem para mudar e compaixão para recomeçar — quantas vezes forem necessárias.

A crise, então, deixa de ser inimiga. Torna-se mestra. Ela nos ensina que não somos nossas conquistas, nem nossos fracassos. Que o valor não está na performance, mas na presença. Que o verdadeiro sucesso é viver em coerência com a própria essência, mesmo quando o mundo lá fora exige máscaras.

No fim, compreendemos que a vida não quer que sejamos perfeitos — quer que sejamos inteiros. E ser inteiro é aceitar-se em todas as fases: na queda e na ascensão, na dúvida e na clareza, na dor e na paz. Porque é nesse ciclo de morte e renascimento interior que o Self desperta, e a existência ganha um novo significado.

Referência: Carl Gustav Jung, O Homem e seus Símbolos, Editora Nova Fronteira, 2008. Autor: Randler Michel, Frater Rosacruz AMORC, psicanalista, terapeuta e astrólogo.