domingo, 2 de novembro de 2025

TODA CRISE É UM APRENDIZADO PARA A ALMA

Por: Randler Michel

Há períodos na vida em que tudo parece ruir ao mesmo tempo. As emoções se tornam intensas e desordenadas, os vínculos afetivos estremecem, e a trajetória profissional perde o sentido. São momentos em que o chão parece desaparecer sob os pés — e, ainda assim, é exatamente aí que algo novo começa a emergir. O arcano menor Seis de Espadas do tarô de  Waite, é o arquétipo da travessia da alma. O aprendizado chega com amor ou através da dor.  

Essas crises emocionais, sentimentais e até profissionais não são meros acidentes do destino. Elas sinalizam, com força e urgência, que chegou a hora de olhar para dentro. São convites disfarçados para a autodescoberta, para o mergulho corajoso nas camadas mais profundas do ser. Quando tudo o que era conhecido se desfaz, o que resta é a oportunidade de encontrar aquilo que é essencial.

A dor de uma perda, a frustração de um fracasso, o vazio de uma rotina sem propósito — todos esses estados-limite funcionam como catalisadores do autodesenvolvimento. Eles nos obrigam a questionar padrões, rever crenças, abandonar máscaras. E, nesse processo, o que parecia ser o fim revela-se como o início de uma jornada de individuação.

Carl Gustav Jung descreveu a individuação como o caminho pelo qual o indivíduo se torna aquilo que realmente é, integrando luz e sombra, razão e emoção, ego e alma. Não se trata de se tornar alguém melhor, mas alguém mais verdadeiro. E esse processo raramente começa em tempos de estabilidade. É no caos que a alma sussurra mais alto.

A autodescoberta não é um evento súbito, mas uma travessia. Envolve reconhecer as partes de si que foram negadas, acolher as dores que foram silenciadas, e permitir que o desconforto aponte direções. O autodesenvolvimento, por sua vez, exige disciplina emocional, coragem para mudar e compaixão para recomeçar — quantas vezes forem necessárias.

A crise, então, deixa de ser inimiga. Torna-se mestra. Ela nos ensina que não somos nossas conquistas, nem nossos fracassos. Que o valor não está na performance, mas na presença. Que o verdadeiro sucesso é viver em coerência com a própria essência, mesmo quando o mundo lá fora exige máscaras.

No fim, compreendemos que a vida não quer que sejamos perfeitos — quer que sejamos inteiros. E ser inteiro é aceitar-se em todas as fases: na queda e na ascensão, na dúvida e na clareza, na dor e na paz. Porque é nesse ciclo de morte e renascimento interior que o Self desperta, e a existência ganha um novo significado.

Referência: Carl Gustav Jung, O Homem e seus Símbolos, Editora Nova Fronteira, 2008. Autor: Randler Michel, Frater Rosacruz AMORC, psicanalista, terapeuta e astrólogo.