quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

O TARÔ ESPELHO DA ALMA : AUTOCONHECIMENTO E INDIVIDUAÇÃO JUNGUIANA

Por: Randler Michel

 


Ilustração criada pela IA Microsoft Designer , homenagem a Jung e Freud , ambos percursores do estudo da psiquê humana. Jung estudou o tarô , astrologia e I Ching . Jung, mostrando o tarô para Freud que observa o gato preto.  Uma cena que jamais se concretizaria, exceto na minha imaginação.

O tarô é um conjunto de símbolos universais, cuja comunicação arquetípica permite o acesso ao inconsciente pessoal, à sombra e ao inconsciente coletivo. Quando compreendido no sentido analítico, favorece a tomada de consciência da energia recalcada, dos traumas emocionais, dos desejos reprimidos e da energia criativa a ser desenvolvida em prol do amadurecimento pessoal e crescimento interior, este processo  é chamado da individuação por Jung.

A palavra "tarô" origina-se do termo italiano "tarocchi", que por sua vez tem raízes no egípcio antigo. A origem dos baralhos de tarô remonta ao século XV na Europa, onde eram inicialmente utilizados como um jogo de cartas antes de se tornarem uma ferramenta esotérica.  No antigo idioma egípcio, o termo "tarô" seria especulativamente derivado das palavras "tar", que significa caminho, e "ro", que significa real. Já no início do século XIX, com a descoberta da Pedra de Roseta, houve uma associação do termo com a Torá, ou Torah, o nome dado pelos judeus ao Pentateuco. O Pentateuco são os cinco primeiros livros do Velho Testamento, que narram a história do povo judeu e explicam a lei mosaica. A palavra “Torá” é sinônimo de lei divina. Daí a alusão de que os arcanos do tarô teriam se originado no Egito

O tarô é um baralho de cartas, sua estrutura atual é conhecida desde o século XV, consistindo em 78 arcanos. O termo "arcano" deriva do latim "arcanus", que significa "segredo" ou "mistério". Mistérios que serão revelados.  Composto por  22 arcanos maiores, que representam temas arquetípicos e universais, e 56 arcanos menores, que abordam situações e experiências pessoais, íntimas e  desafiadoras.

Antoine Court de Gébelin

Antoine Court de Gébelin (1725-1784), nascido em Nîmes, França, foi um pastor protestante e ocultista que popularizou a interpretação esotérica do tarô. Em seu livro "Le Monde Primitif" (1781), ele argumentou que o tarô continha ensinamentos ocultos do antigo Egito e era um repositório de sabedoria esotérica universal. Para Gébelin, o tarô representava a chave para decifrar os mistérios da humanidade.

Arthur Edward Waite

Arthur Edward Waite (1857-1942), nascido em Nova York, Estados Unidos, mas vivendo principalmente na Inglaterra, foi um esoterista e membro da Ordem Hermética da Aurora Dourada. Ele criou o famoso baralho de tarô Rider-Waite, em parceria com a artista Pamela Colman Smith. Para Waite, o tarô era uma ferramenta de autoconhecimento e transformação pessoal, carregada de simbolismo espiritual e esotérico.

Papus (Gérard Encausse)

Gérard-Anaclet-Vincent Encausse, conhecido como Papus (1865-1916), nasceu em La Coruña, Espanha, e viveu em Paris, França. Médico, ocultista e fundador da Ordem Martinista, Papus escreveu "Le Tarot divinatoire" (1909), onde apresentou uma visão esotérica do tarô, combinando tradições egípcias e cabalísticas. Para Papus, o tarô era uma ferramenta poderosa para a adivinhação e comunicação com o mundo espiritual.

Carl Gustav Jung

Carl Gustav Jung (1875-1961), nascido em Kesswil, Suíça, foi um psiquiatra e psicoterapeuta que fundou a psicologia analítica. Jung via o tarô como um meio de acessar os arquétipos do inconsciente coletivo e pessoal. Ele acreditava que as cartas do tarô representavam símbolos universais que podiam refletir as dinâmicas internas da psique humana. Para Jung, o tarô era uma ferramenta para a individuação e autoconhecimento, facilitando a integração das diferentes partes da personalidade.

O Tarô e os Arquivos Akáshicos

O tarô também tem uma relação estreita com os conceitos teosóficos dos planos astral e mental, bem como com os corpos astral e mental no homem, conforme descritos por Helena Blavatsky. Blavatsky, uma das fundadoras da Sociedade Teosófica, acreditava que o tarô poderia acessar os Arquivos Akáshicos, uma suposta base de dados universal que contém todo o conhecimento e experiências da humanidade. Isso se alinha com as teorias de Jung sobre o inconsciente coletivo, onde o tarô atua como um meio de explorar a sabedoria acumulada da humanidade.

Ilustração criada pela IA Microsoft Designer.  O arcano maior de nº 2- A papisa ou Sacerdotisa, entre duas colunas simbolizando a dualidade  matéria e espírito, bem e mal , luz e trevas, preto e branco. Segurando nas mãos o pergaminho, fonte do conhecimento com inscrição TORA.

Conclusão

Os arcanos do tarô são representações de arquétipos universais. Arquétipos são padrões e símbolos que existem no inconsciente coletivo e são compartilhados por toda a humanidade. Quando interagimos com as cartas do tarô, estamos, na verdade, ativando esses arquétipos que ressoam com nossas experiências pessoais e emoções. Esse processo pode trazer à tona insights profundos sobre nossos sentimentos, pensamentos e comportamentos, muitas vezes revelando aspectos que estavam escondidos no inconsciente pessoal.

A capacidade do tarô de fornecer insights sobre o futuro está ligada ao conceito de sincronicidade, introduzido por Jung. Sincronicidade é a ocorrência de eventos que estão significantemente relacionados, mas não têm uma relação causal aparente. Ao fazer uma leitura de tarô, as cartas que aparecem podem ter um significado simbólico que reflete a situação ou pergunta do consulente, proporcionando orientação e clareza sobre possíveis desenvolvimentos futuros.

Os arcanos do tarô transcendem as limitações do tempo e espaço tradicionais, ( produtos da nossa própria consciência ) funcionando como um espelho que reflete o estado atual da consciência do consulente. Eles nos conectam aos planos astral e mental, conforme descrito por Helena Blavatsky, e permitem acessar informações dos Arquivos Akáshicos, uma suposta base de dados universal que contém todo o conhecimento e experiências da humanidade, que serviu de inspiração , do  conceito de inconsciente coletivo por Carl Gustav Jung e  a recente, no sentido de mais atual,  a teoria  da “memória sistêmica familiar” bem debatida na atualidade através dos estudos de constelação familiar por Bert Hellinger. A título de comparação,  tanto o inconsciente coletivo, ou os arquivos Akáshicos , hoje temos Deep Web e Dark Web são camadas da internet formadas por páginas que não podem ser encontradas por meio de mecanismos de busca, como o Google e o Bing, mas as informações estão lá...

Os arcanos funcionam como Espelho da Alma, portais para a consciência objetiva, ajudando-nos a explorar a interconexão entre nossos estados internos e as circunstâncias externas. Através do tarô, podemos obter uma compreensão mais profunda de nossas vidas e do universo, permitindo-nos tomar decisões mais conscientes e alinhadas com nosso propósito. Sugiro aqueles que almejam buscar o autoconhecimento, tenham o próprio baralho do tarô. Tenho certeza que terá uma conversa íntima com seu inconsciente. Para os iniciantes minha indicação é o famoso baralho de tarô Rider-Waite.

 

Referências

  • Hajo Banzhaf, "O Livro do Tarô", Editora Pensamento, 2001.
  • Papus, "Le Tarot divinatoire", Editora Chacornac, 1909.
  • Arthur Edward Waite, "The Pictorial Key to the Tarot", William Rider & Son, 1910.
  • Helena Blavatsky, "A Doutrina Secreta", Editora Pensamento, 1888.
  • Silva, Randler Michel, O Tarô Espelho da Alma: Autoconhecimento e Individuação Junguiana. Fusão Cósmica,2025.

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