Por: Randler Michel
A inveja sentimento complexo e multifacetado, nesta produção textual analiso sob diferentes perspectivas, incluindo a psicanálise, a arte, a filosofia e a Bíblia. Do ponto de vista psicanalítico, explorado por Freud, a inveja envolve um desejo corrosivo de possuir algo que pertence ao outro, a quem o invejoso julga desmerecedor. Na arte, a obra "Inveja" de Edvard Munch (ilustração) retrata visualmente a angústia e o tormento interno gerado por esse sentimento. Filosoficamente, optei pelo pensador Schopenhauer por destacar a diferença entre a cobiça, que reconhece o mérito do outro, e a inveja, que visa a destruição do próximo. Biblicamente, a inveja é condenada como um pecado que desvia o foco da gratidão e do crescimento pessoal. Entre os sinais de uma pessoa invejosa estão a desvalorização das conquistas alheias, comentários depreciativos e o desejo de ver o outro falhar, revelando assim a profundidade e a universalidade da pequenez humana.
A psicanálise é uma abordagem terapêutica e uma teoria da mente que surgiu no final do século XIX e início do século XX, revolucionando a compreensão do comportamento humano. Fundada por Sigmund Freud, neurologista austríaco,nascido em 1856. A psicanálise começou a ganhar forma no final do século XIX, com a publicação de obras fundamentais como "A Interpretação dos Sonhos" (1900). O objeto de estudo é explorar e entender os processos inconscientes que influenciam pensamentos, emoções e comportamentos.
A psicanálise concentra-se principalmente no inconsciente, uma parte da mente que abriga desejos, memórias e sentimentos reprimidos. Freud argumentava que muitos dos nossos comportamentos e emoções são influenciados por forças inconscientes. Ele utilizava técnicas como a livre associação e a interpretação dos sonhos para explorar esses conteúdos ocultos.
Origem dos Desejos e Pulsões
Freud propôs que os desejos humanos têm suas raízes nas pulsões básicas, que são forças internas que impulsionam o comportamento. As principais pulsões são: a pulsão de vida (Eros) e a pulsão de morte (Thanatos). A pulsão de vida está relacionada ao desejo de sobrevivência, reprodução e prazer, enquanto a pulsão de morte está associada ao desejo de retorno a um estado de inanição ou destruição.
O desejo, segundo Freud, é uma manifestação das pulsões internas. A pulsão de vida busca a satisfação e o prazer através de conexões emocionais e atividades criativas. Já a pulsão de morte pode se manifestar como um desejo destrutivo, tanto em relação a si mesmo quanto aos outros. A ambivalência entre essas pulsões está no cerne da teoria psicanalítica.
Cobiça e Inveja na Psicanálise Freudiana
Freud também explorou as emoções humanas, incluindo a cobiça e a inveja. No contexto psicanalítico, a cobiça é vista como um desejo de possuir algo que outra pessoa possui, mas com reconhecimento do merecimento do outro. Como diz a frase: "O cobiçador deseja ter igual, mas reconhece o merecimento do próximo. Se ele pode, também posso."
Por outro lado, a inveja é mais corrosiva e negativa. O invejoso não apenas deseja o que o outro possui, mas também questiona o merecimento do próximo. O invejoso não suporta ver a felicidade do outro diante das conquistas. A clássica pergunta do invejoso é: "Como você conseguiu? Você não tem condições..."
A inveja pode ser um sentimento doloroso, que pode afetar a autoestima e o autorrespeito. Inveja, em contrapartida, envolve o sentimento que o sujeito nutre pela outra pessoa, desejando possuir algo que pertence ao outro, a quem ele julga desmerecedor de tal objeto (FREUD, [1915] 1996).
A obra "Inveja" ilustração acima, de Edvard Munch, pintada em 1907, explora a complexidade desse sentimento humano. Munch, famoso por suas expressões intensas e simbólicas, utiliza cores sombrias e figuras distorcidas para transmitir a natureza corrosiva da inveja. A pintura mostra uma figura masculina com uma expressão marcada pelo desejo e ressentimento, observando atentamente a imagem de um casal, cenário mais claro e feliz. Através dessa obra, Munch revela como a inveja consome o indivíduo, refletindo a angústia e o tormento interno provocados por esse sentimento.
A Inveja no Ponto de Vista Filosófico
Do ponto de vista filosófico, a inveja pode ser vista como um pecado que tira o foco do próprio indivíduo. O filósofo alemão Arthur Schopenhauer dizia que sentir inveja é humano, mas gozar do infortúnio dos outros é diabólico. A inveja pode ser definida como um sentimento de frustração e rancor que surge quando se deseja algo que não se tem. Pode ser causada por uma sensação de inferioridade, ou por uma incapacidade de alcançar o que se deseja. A inveja pode ser um sentimento doloroso, que pode afetar a autoestima e o autorrespeito.
A Inveja e a Cobiça no Ponto de Vista Bíblico
No contexto bíblico, a inveja é frequentemente condenada como um pecado, associada à falta de gratidão e ao desejo de prejudicar o próximo. A cobiça também é desencorajada, mas há uma distinção: a cobiça pode ser vista como um desejo de melhoria pessoal, enquanto a inveja carrega a intenção de destruição da imagem e das conquistas do outro. "O coração em paz dá vida ao corpo, mas a inveja apodrece os ossos." Provérbios 14.30
"Amarás o teu próximo como a ti mesmo." (Mateus 22:39) Esse princípio de amar ao próximo como a si mesmo contrasta diretamente com a inveja, pois implica desejar o bem e a felicidade dos outros, ao invés de ressentir suas conquistas.
"Não cobiçarás a casa do teu próximo. Não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo ou serva, nem o seu boi ou jumento, nem coisa alguma que lhe pertença." Êxodo 20:17
Sinais de uma Pessoa Invejosa e Tipos de Falas Comuns
Alguns sinais de uma pessoa invejosa podem incluir:
- Desvalorização das conquistas dos outros
- Comentários sarcásticos ou depreciativos
- Sentimentos de ressentimento ou amargura
- Desejo de ver o outro falhar, sofrer e ser humilhado.
Falas comuns de uma pessoa invejosa podem ser:
- "Você teve sorte."
- "Se eu tivesse as mesmas oportunidades, também conseguiria."
- "Não sei como você conseguiu isso."
Referências Bibliográficas
. Bíblia Sagrada. (2000). Nova Versão Internacional (NVI). São Paulo: Editora Vida.
· Freud, S. (2010). A Interpretação dos Sonhos. São Paulo: Companhia das Letras.
· Freud, S. (2010). Além do Princípio do Prazer. São Paulo: Companhia das Letras.
. Schopenhauer, A. (2004). O Mundo como Vontade e Representação. São Paulo: Companhia das Letras.
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