quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

PISCANÁLISE E NEUROCIÊNCIA: COMPREENDENDO A MENTE HUMANA

 

Por: Randler Michel 

Psicanálise: Muito Além da Cura Pela Fala

A psicanálise vai muito além da cura pela fala; trata-se de um profundo processo de escuta e autoconhecimento. Iniciada por Sigmund Freud no final do século XIX, a psicanálise propõe uma estrutura complexa do aparelho psíquico, compreendido inicialmente em três níveis: inconsciente, pré-consciente e consciente (primeira tópica), e posteriormente em id, ego e superego (segunda tópica). O diálogo entre a psicanálise e a neurociência é uma convergência fascinante que explora como ambos os campos entendem a mente e o cérebro.  Os traumas, segundo a psicanálise, são eventos com carga emotiva e sentimental  podem ficar reprimidos no inconsciente e impactar no comportamento ,no desenvolvimento das neuroses, fobias, pânico e das doenças psicossomáticas . A neurociência complementa essa visão ao explicar como essas experiências são registradas no cérebro através dos sentidos e como áreas específicas, como o hipocampo e a amígdala, envolvidas no armazenamento e na resposta às memórias. Assim, enquanto a psicanálise oferece o conceito teórico para entender a mente, a influência das emoções e sentimentos reprimidos a neurociência proporciona evidências empíricas sobre como essas teorias se manifestam fisicamente no cérebro. A integração dessas perspectivas promove um entendimento mais holístico da mente humana e dos processos que influenciam o comportamento.

Estrutura do Aparelho Psíquico

  • Primeira Tópica de Freud:

    • Inconsciente: Parte da mente onde residem desejos reprimidos e memórias que não acessamos conscientemente.

    • Pré-Consciente: Conteúdos que não estão presentes na consciência, mas podem ser trazidos à tona.

    • Consciente: Tudo o que conseguimos perceber e vivenciar em tempo real.

  • Segunda Tópica de Freud:

    • Id: Fonte dos impulsos instintivos, desejos primitivos e traumas emocionais. ( produto de um trauma físico).

    • Ego: Mediador entre os desejos do id e as restrições do superego, buscando um equilíbrio.

    • Superego: Incorporador das normas sociais e morais, funcionando como a voz da consciência.

Estágios do Desenvolvimento Psicossexual

EstágioIdadeFonte de PrazerFixação AdultaConflito Psicossexual
Fase OralRN - 18 mesesBoca (sucção, mastigação, sugar, beber, falar, comer, morder, levar objetos à boca).Fumar, comer em excesso, sexo oral, abuso de álcool.Confiança vs. Desconfiança.
Fase Anal12 meses - 3 anosÂnus (expelir, segurar as fezes, ser controlado, manipulado).Rigidez incomum, disciplina ao extremo, mania de limpeza, descuido ao extremo, acumular lixo, neurose obsessiva.Autonomia vs. Vergonha.
Fase Fálica3 - 6 anosGenitais (interesse nos órgãos sexuais), aceitação do complexo de Édipo, identificação com pai do sexo oposto.Confiança ou culpa.Iniciativa vs. Culpa.
Fase de Latência6 anos - adolescênciaRepressão dos interesses sexuais, preocupações sexuais latentes, abusos infantis.Acreditam em si ou sentimento de inferioridade.Perseverança vs. Inferioridade.
Fase GenitalAdolescência - adultoGenitais .(reaparecimento dos problemas sexuais) relações sexuais maduras.Fixação adulta por pornografia, sensualismo exacerbado.Identidade vs. Disseminação.

Conceito de Neurose, Psicose e Perversão Segundo Freud

  • Neurose: Distúrbios resultantes de conflitos internos não resolvidos. Exemplos: neuroses traumáticas, histéricas e obsessivas.

  • Psicose: Ruptura com a realidade externa, gerando delírios e alucinações.

  • Perversão: Desvio das pulsões sexuais para objetos não normativos.

Sintomas Segundo Freud

  • Depressão: Sentimento de tristeza persistente, perda de interesse em atividades.

  • Ansiedade: Preocupação excessiva, tensão, sintomas físicos de estresse.

Mecanismos de Defesa do Ego

  • Negação: Recusa a aceitar a realidade.

  • Projeção: Atribuição dos próprios pensamentos a outros.

  • Repressão: Bloqueio de pensamentos dolorosos.

  • Introjeção: Incorporação de características de outras pessoas.

  • Fixação: Persistência em um estágio de desenvolvimento.

  • Formação Reativa: Comportamento oposto aos desejos.

  • Isolamento: Separação de pensamentos e sentimentos.

  • Sublimação: Canalização de impulsos em atividades socialmente aceitáveis.

  • Dissociação: Separação de certos pensamentos da consciência.

 

O Diálogo Entre Psicanálise e Neurociência

O cérebro é composto por várias áreas que processam traumas físicos e memórias. Os órgãos dos sentidos registram traumas através dos cinco sentidos, transformando esses estímulos sensoriais que interpretamos como percepção.  A psicanálise interpreta trauma físico, do ponto de vista das consequências emocionais,  a subjetividade do sujeito.

  • Hipocampo: Memória episódica.

  • Córtex Pré-Frontal: Memória de trabalho.

  • Córtex Cerebral: Memória semântica.

  • Cerebelo: Memória implícita.

  • Amígdala: Memória emocional (medo, pânico, traumas) o que mais se aproxima do ID. Inconsciente , o objeto central do estudo da psicanálise.

Essas áreas se relacionam com o Ego descrito por Freud. A amígdala cerebral é crucial para a memória emocional e a produção de adrenalina e cortisol. A união entre psicanálise e neurociências proporciona um entendimento mais profundo das memórias e traumas.

Registro do Trauma pelo Cérebro

Todo trauma é uma maturação do sistema nervoso. Por exemplo, em um acidente de carro, as sensações no corpo físico incluem:

  • Audição: O som do pneu cantando, freando bruscamente, o barulho da batida, os gritos, o choro. No segundo momento as vozes das pessoas próximas,  o som da ambulância, a voz dos socorristas e etc.

  • Olfato: O cheiro do pneu, do sangue, da gasolina vazando, da fumaça.

  • Visão: A cena da batida, o carro rodando na pista, o capotamento, no segundo momento os socorristas, a polícia, os bombeiros e etc.

  • Tato: O corpo batendo no teto do carro, no vidro, apertado pelo cinto de segurança. No segundo momento o corpo sento tocado pelos socorristas, colocado na prancha, na ambulância, a punção venosa  e etc.

  • Paladar: O gosto do sangue, o amargo da boca devido ao excesso de adrenalina.

Todas essas sensações são estímulos sensoriais puros  serão interpretados pelo cérebro, através da percepção. Esses estímulos ficarão registrados em diferentes partes do cérebro, em especial na amígdala cerebral. É comum em  pessoas que sofrem grave acidente ou abuso sexual, desencadear neurose de pânico, medo, ansiedade e depressão diante sobrecarga emocional e sentimental.

Referências Bibliográficas

  • Freud, S. (1917). "Introdução à Psicanálise". Imago Editora.

  • Freud, S. (1923). "O Ego e o Id". Imago Editora.

  • Solms, M., & Turnbull, O. (2002). "O Cérebro e o Mundo Interno". Karnac Books

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